quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Eu e meus fantasmas
Dry Neres




Rasguei minha camisa. Me desnudei. Desdobrei as flores. Penso que eles nunca mais vão embora. Penso que endereçaram minha alma e autenticaram no cartório a mantença do meu corpo. Penso que eles são mesmo, fantasmas meus. E de espectros, vou vivendo. E de recusas, vou morrendo. As máscaras não funcionam mais. Os olhos piscam mórbidos. Os lábios secos jazem sem cor. As mãos frias e paradas, não alcançam a porta do labirinto. Sempre descubro, sempre renovo a aprendizagem: Há beleza na dor!
Eu via que o mar me nascia dos dedos que se espreguiçavam nas lágrimas minhas. Eu via palavras voando num universo paralelo, em outra esfera sem nome. Para cada lado que me volto, meus pensamentos me atordoam, meus pensamentos me invadem num barulho estridente de tic-tac, tic-tac. Se eu tivesse um baú, trancaria meus medos. Se eu tivesse uma oportunidade mataria meus fantasmas. Eles me apertam a alma, escavam feridas abertas, confundem-me ante ao espelho. Meus hectoplasmas me fazem querer fugir de mim. Meus fantasmas hectoplásmicos, não fujam de mim! Talvez nesse edifício que sou, vocês possam ser o sustentáculo. Talvez vocês sejam a única verdade palpável, apesar de me aparecerem sempre como fumaça trépida. Minhas imagens distorcidas, com cheiros, tonalidades, prazer, dor, fotografias de vento. Vocês fizeram este rosto pálido e este sorriso largo.
Rasguei minha camisa, porque teus jeitos ainda estão impregnados em mim. Inútil foi. Vocês são minha pele, meu prazer. Vocês são minhas contradições, eterno fazer poético. Fantasmas meus, não me abandonem. Meus pés estão cansados. Quem me leva? Meus fantasmas.

8 comentários:

Poeta Mauro Rocha disse...

Nossos fantasmas sempre estarão a nos seguir, só precisamos saber quais esquece-los e quais consultá-los para que novos fantasmas não lotem a casa.

Um ótimo texto, como sempre!!!

meus instantes e momentos disse...

Muito bom, gosto de voltar aqui.
Tenha um belo final de semana.
maurizio

Anderson Meireles disse...

Eternas companhias... fantasmas estão sempre conosco.
Rest saber quando são bons, quando não são...
Abraço!

~ Marina ~ disse...

Dry, querida, eis-me aqui, virtual mas real, e sem ser pra te assombrar, embora tu o fizeste de certa forma, sacudindo-me, mais uma vez, com teu estilo forte - tipo "soco" nos sentidos.

* É isso aí! Grita, que teu grito é expressiva poesia!

* Lília * disse...

Huuuumm! Fantasmas, isso me lembra as embarcações que naufragaram nos mares por onde navego. Mas, até nisso eu vejo poesia e, em cada post teu também, querida! És uma das minhas escritoras favoritas.

*Bom fim de semana, Dry!

Juízo e, beijos!

Cristiana Fonseca disse...

Belo texto. Admiro a tua escrita.
Pesso desculpas pela ausência tenho me envolvido com alguns projetos e me tomaram o tempo.
Voltarei pra ler-te.
Abraços,
Cris

*** Cris *** disse...

OLá Dry, sempre bom vir aqui e ler um pouquinho de vc.
Boa semana!
Bjs!!!

Júh disse...

Parabéns pelo texto...