quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Memorialista
Dry Neres





Memorialista, eu sou! Gosto de costurar as histórias por onde passei como protagonista. É... meu timbre é muito confessional. E sou em muitas horas do meu dia, somente um fake. Humana como você, sou eu. Minha diversão é fingir que estou presente neste mundo. Camuflo toda a minha ausência com pele de cetim. A minha memória é um universo e você faz parte dela. Nos últimos segundos, eu tenho pensado bastante sobre os momentos em que andar de bicicleta sem as mãos me instigava, me excitava. Pensei no meu falatório com minhas bonecas e cadernos de desenho. Vi que nada disso me atrai mais.
Sinto necessidade hoje de pular do mais alto trampolim e de nadar junto à baleias. Me fiz um tanto lunática, visionária ao extremo. Quis ser poeta e acabei descobrindo que é um caminho sem volta. Escrever dói, escrever derrama, escrever me faz viver. Mas eu tenho endeusado de forma sinestésica o âmbito que percorre a soltura entre corpo e alma. E queria. E quero uma hora dessas.
Eu estive velejando sobre a verdadeira face da minha idade psico-temporal. E percebi espantada que o sorriso de menina esconde rugas e sobrancelhas arqueadas e cortes nas mãos. Os ombros são caídos e o olho arde... É uma ardência da chuva ácida que tem feito meus olhos nus e côncavos desfalecerem em sangue. Lembro, lembro... Memorialista, sou. Eu não queria ter uma locomotiva nos pensamentos. Pareço estar sempre dando um passo à frente. Pareço, só! Na verdade a chuva ácida que corre dos meus olhos me obriga a olhar lá pra antes daqui. Ainda tem algo mal resolvido. Ainda tem algo escondido. Ainda tem algo que preciso esquecer. Joguei umas roupas fora, quebrei quadros e imagens, "vesti" botas e "calcei" luvas... mas, não resolveu!
E quem garante a você, que é tudo verdade? Eu sou um fake!
Invento, pinto, recrio, minto... FINJO! Eu posso tocar o que você pensa agora e sinto o tremor e temo pela tua agonia. Eu agora sou colecionadora de grãos de areia. Sou também a esfinge do cerrado. Eu agora trabalho com girassol. E estou sem pecado. Eu sou um fake e acreditar no que eu digo talvez seja a maior burrice que você esteja fazendo. Você, que me lê... o que acha disso? Não. Não precisa dizer! O que eu acho é que descobri que podemos dialogar, mesmo que não seja em tempo real. Descobri que posso trazer sua memória para carregar a minha que perdeu a bateria e os parafusos. Memorialista, não queria SER!



FALAM MAIS QUE TUDO: SÍMBOLOS DAS MEMÓRIAS DA POSTUMIDADE DA VIDA MINHA






Frogner Park, Oslo - Noruega & O operário na Rússia

















De Damien Hirst - Manhattan & O Edifício Ernst & Young em Los Angeles - EUA


















Em Berlim, Alemanha














A loucura, o caos personificado - De autores desconhecidos de Bagdá

E relembro nitidamente a figura doce dos países por onde AINDA não passei... dos que não tenho o nome, nem legenda, nem GPS. E relembro... e penso... e peso... MEMORIALISTA!

7 comentários:

Anderson Meireles disse...

Sinto um quê de divino nisso que acabei de ler.
Dvino porque mesmo que se explique, o mistério permanece.
divino porque tudo que o divino é, é simplesmente "ser".
É o que é sem precisar explicar.
Vejo esse tal "fake" não como falso e sim como não-descoberto, não lapidado.
Completa porém não acabada; assim que vejo.
Um ser completo num infinito processo de aperfeiçoamento.

* Lília * disse...

Dry, já te disse isto antes, com outra identidade, é claro, mas, és fantástica, garota! Tens uma maturidade e percepção além da tua idade.

Beijos de mar!

~ Marina ~ disse...

Dry, és puramente, fantasticamente, inteligentemente exclusiva!

Beijos pra ti!

Cadinho RoCo disse...

Nunca consegui equilíbrio sobre a bicicleta com as duas mãos soltas. E daí? Não sou memorialista! Mas acredito em você e em tudo que escreve. E daí? Não sou memorialista!
Você longe? Mentira! Não sou nem memorialista e nem medidor da distância. Sou encontro quando quero ser e nem preciso de bicicleta para ter minhas mãos livres e soltas neste espaço que chega ao nosso alcance. E daí?

Mandy disse...

E se eu te disser que quando comecei a escrever esse texto foi justamente banhada por uma influência sua?
Uma vez estava conversando com uma amiga que, na realidade, escrevo meu blog para mim, pelos meus desabafos... Mas desde que você começou a comentar, percebi que se eu arremessasse as minhas palavras, alguém do outro lado poderia ler, se compadecer e me aconselhar e orientar em tantos momentos!
=)

Um grande beijo!

Sentidos sobreviventes disse...

Meu Deus !!! Que coisa maravilhosa,já era,viciei no teu blogger ,você é fantástica!!

Katia De Carli disse...

Querida Dry
"Escrever dói, escrever derrama, escrever me faz viver."
É isso tudo aí... e mais, escrever me acalma, me esvazia, alivia...
Desculpa a demora em retribuir sua visita, mas está explicado no blog o motivo da minha ausência...
Essa semana está pesada, de serviço, graças a Deus!
Fiquei muito feliz com o seu comentário, aquele post foi mesmo uma catarse... ou um parto!
Quanto ao finalzinho do seu texto, por favor, minha querida, ouça-me, escreva "E relembro nitidamente a figura doce dos países por onde AINDA não passei..." porque todos os sonhos são possíveis, só que uns demoram mais...
beijos e bom fim de semana