quinta-feira, 2 de outubro de 2008

A dialética da dor
Dry Neres



"Tudo é dor
e toda dor
vem do desejo
de não sentirmos
dor". - Legião Urbana

Penso no homem como uma eterna ferida aberta. Como uma cicatriz de questionamento existencial sempre em carne viva. E antes da existência... O que existia? Acredito infinitamente que o amor já era nascido. Talvez seja uma das únicas certezas de que permito-me ter gravado em meu peito: a de que o amor não tem datada idade de nascimento, por existir desde tempos imemoriais e de que a dor é fruto dessa existência que nos cerca. Nunca couberam, (o amor e a dor), em nenhuma literatura Florbeliana, Ceciliana, Machadiana, Freudiana... Por mais intimidade que chegaram a ter para lidar com eles, ninguém nunca soube esculpir sua verdadeira face. Acredito que por ser algo tão divino, tão sagrado que não é permitido à mão do homem traduzir. Penso que na filosofia, nem o Platonismo, nem as figuras Dantescas, conseguiram racionalizar o que o homem ousou chamar de amor. Poderia ter outros nomes, como loucura, como sol, como doce, leve... mas o homem insistiu em chamar de amor. E aí vejo sabedoria.
No mesmo compasso, quando o homem nasceu, veio com ele um órgão não incluso nos estudos do corpo humano: a dor. Sim, chamaria de órgão, porque tudo que mora dentro de mim, passa a ser parte de um todo do que chamo de Eu. Muitas vezes a dor funciona como estímulo contra a não acomodação. Por vezes, ela funciona como sepulcro do que um dia chamaram de vida. Do que sei e posso falar substancialmente é que o motor da existência humana se baseia nela. E é um exercício interessante ver cores, belas canções, belas lágrimas, no espelho que reflete o que sentimos e que nos causa inquietação, desespero, esmagamento interno. Quando penso em esmagamento gosto da figura que meu inconsciente constrói, de uma mão arrancando pálpebras e olhos.
Existe sim a dialética, a própria contradição em ser correspondido e se encontrar no Outro e entre amar quem não nos ama. E às vezes, funciona com o amor, a pintura de ser mais bonito, mais vivo, mais... mais tinto, um amor quando se sofre. Quando se quer alcançar aquilo que disseram que você não pode tocar. A dor nos permite curar nossas doenças. A dor nos sopra canções dentro de mares onde não conseguimos visualizar o fim. Ah, a dor... é parente de primeiríssimo grau do bem ou mal amado amor.
E a essa dialética só devo agradecimentos, porque de toda a literatura que penso que sou, tenho esses papéis vivos, essas tatuagens que são irmãs e eternas. Do lado esquerdo o amor, do lado direito a dor. Volta e meia se beijam, volta e meia se deitam na dança interminável do que chamamos de ato de respirar.
* Dedico este texto a um Ser que o perfume é de poesia. Que o abraço me transporta desse lugar comum e me faz habitar reinos inatingíveis. Que o sorriso consegue ter a luz do sol, mesmo que nas noites frias de neblina. Para aquele de quem eu ouvi palavras que me fizeram caminhar para a área educacional, porque ele ama o que faz, porque ele come literatura e música e amor: RINNALDO ALVES em sua Brasilidade indiscutível me encanta, me fascina! Um beijo, meu carequinha! *;*

9 comentários:

*** Cris *** disse...

Fascinante, intrigante esse tal de amor,né?
Não consigo me imaginar vivendo sem um grande amor dentro do meu peito, e que doa, não tô nem aí....
Adorei seu texto! Vc é demais menina!
Um abraço!

~ Marina ~ disse...

Exercício interessante, Dry, é ler a tua dialética sempre apaixonada, inflamada, perfeita! Parar de respirá-la ao lê-la!

Beijos, querida!

Anderson Meireles disse...

Amor, quem quer que ele seja, é sim eterno...
E a melhor definição de eterno que pude encontrar é: Não tem começo, nem fim.

E a dor... essa vejo como um aviso de que coisas estão acontecendo,
Abraço!
PS: Obrigado.

* Lília * disse...

Voltei pra te reler, pois te ler é como observar o mar: um fascínio!

***Beijos de mar***!

Poeta Mauro Rocha disse...

Feliz daquele que fascina e tem alguém pronto para os beijos!!

Texto interessante, ainda digo que você poderia publicar.

Um ótimo fim de semana.

Um abraço!!!

Katia De Carli disse...

Dry querida

Não sei quem é esse Ser de Primeira Grandeza a quem vc se refere, mas se fez com que escrevesse esse texto belíssimo com certeza não pertence a essa raça nossa!
Tem certeza que ele é humano?
Ou melhor, você também é mesmo humana?
beijo e luz (acho que vc vive de luz - rs)

Rinaldo Pegitiz Alves Almeida disse...

LINDA DRY,

Quis o dia todo ir ao encontro de suas palavras, mas elas me alcançaram antes que eu desse o primeiro passo. Cercaram-me docemente. Carregaram-me pela mão. “Me leve ao seu líder, garotas”, sussurrei. As palavras são mulheres nuas! Jogaram-me ao chão com a força das tempestades acariciando a mansidão dos rochedos. Prostrado diante de sedentas ninfas, fui fustigado por cada corpo nu e cru que dançava ao meu redor. Sentí a dor do negro no navio tumbante. Sentí a dor Shakespeareana, Platônica, Clariciana, Florbeliana, Ceciliana, Machadiana, Freudiana, Gabrieliana, Dryeliana... Sentia a dor, mas não acreditava em seus olhos. Para certificar-me que estava prostrado diante do amor, fui São Tomé e toquei delicadamente a dor de cada palavra, acariciei cada uma com a força do meu grito, amei todas elas e ao mesmo tempo, aquiete-me nelas. As palavras são mulheres nuas...

Mais um lindo texto Dry (chovendo no molhado... rs)
Obrigado pela bela homenagem.
A literatura Dryeliana me alcançou com força hj.
Estou cheio de suas palavras.
Flutuo...
Bjs no ar...

Anônimo disse...

Quem sou para querer acrescer algo a este texto de inteira inspiração. Entretanto, senti algo como a PAIXÃO a reunir estes aspectos Essenciais.

A alquimia que realizas no teu espírito te faz sábia e capaz de lidar com questões profundas, demonstrando a sua maturidade aos nossos olhos.

Para mim, vc não tem vinte anos de vida. Vc é atemporal.


Bjos.

Ana

MARTHA THORMAN VON MADERS disse...

Amores, amores, sempre falem a pena não?
Apareça e tenha uma boa semana. beijos