quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Eu e meus fantasmas
Dry Neres




Rasguei minha camisa. Me desnudei. Desdobrei as flores. Penso que eles nunca mais vão embora. Penso que endereçaram minha alma e autenticaram no cartório a mantença do meu corpo. Penso que eles são mesmo, fantasmas meus. E de espectros, vou vivendo. E de recusas, vou morrendo. As máscaras não funcionam mais. Os olhos piscam mórbidos. Os lábios secos jazem sem cor. As mãos frias e paradas, não alcançam a porta do labirinto. Sempre descubro, sempre renovo a aprendizagem: Há beleza na dor!
Eu via que o mar me nascia dos dedos que se espreguiçavam nas lágrimas minhas. Eu via palavras voando num universo paralelo, em outra esfera sem nome. Para cada lado que me volto, meus pensamentos me atordoam, meus pensamentos me invadem num barulho estridente de tic-tac, tic-tac. Se eu tivesse um baú, trancaria meus medos. Se eu tivesse uma oportunidade mataria meus fantasmas. Eles me apertam a alma, escavam feridas abertas, confundem-me ante ao espelho. Meus hectoplasmas me fazem querer fugir de mim. Meus fantasmas hectoplásmicos, não fujam de mim! Talvez nesse edifício que sou, vocês possam ser o sustentáculo. Talvez vocês sejam a única verdade palpável, apesar de me aparecerem sempre como fumaça trépida. Minhas imagens distorcidas, com cheiros, tonalidades, prazer, dor, fotografias de vento. Vocês fizeram este rosto pálido e este sorriso largo.
Rasguei minha camisa, porque teus jeitos ainda estão impregnados em mim. Inútil foi. Vocês são minha pele, meu prazer. Vocês são minhas contradições, eterno fazer poético. Fantasmas meus, não me abandonem. Meus pés estão cansados. Quem me leva? Meus fantasmas.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Dos caminhos, dos versos soltos, dos posts duplos
Dry Neres




Oh minha terra de sabores
Oh poetas de almas longas
Quantas vidas de vagas leves
Nos lugares por onde aviltas


Teus sussurros, gargantas roxas
Meus poemas são livros teus
Meus Drummonds que nas noites lentas
Me aparecem como o teu adeus

Dissabores, meu terno abraço
A poesia este eterno laço
A palavra que envolve, bebe

Oh terra minha, esse vento reza
O abafado som que faz os olhos teus
De tudo que levo, a saudade é a mala...
mola, matriz, canto inspirador...
Sorriso teu.




O sorriso dela, verborragia

Nada prosaico
Muito predicativo
Pouco poeticossintetizador
Exacerbadamente verborrágico
Demasiado a devanear

Uma janela, um caminho
Psiu! Ninguém pode escutar
Um passo, um grito
Ahh!! O medo me invadiu
Preciso ficar

Nada prefixal
Muitos paradoxos
Pouco silêncio
Exacerbadamente dramático
Demasiado fingidor

O meu andar, meus caros
É cheio de mácula
O meu sorriso, amigos
É cheio de dor

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

O momento mais triste
Dry Neres



Ter que ver minha pele a se abrir

E de dentro, sair o corpo seu

Cheio de cores e notas

Cheio de amor e dor

Triste mesmo foi ver saindo

O que nunca me habitou

Lágrima em forma de sorrir

Você, que virou nuvem, oh amor meu!

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Diga sim pra mim!
Dry Neres

Diz que quer abraçar o sol junto ao meu corpo. Ou simplesmente diz que quer me abraçar. Sua voz ao telefone me faz querer ultrapassar todos os fios, todos os elétrons da comunicação ofegante, da respiração cintilante. Diz que sim. Que eu te faço bem. Que eu sou a Dona dos teus "ais". Teu cais, teu porto, teu carro desgovernado. Sua pele ainda insiste em acariciar a minha. E as aves do céu me lembram teu pousar. E o teu canto não me sai da pele. Confesso! Já tentei lavá-lo com outras vozes, com outros cantos, com outros instrumentos. Confesso novamente... nada saiu de mim. Reclamo com o universo, grito com o tempo. Maldito seja o tempo! Maldita seja a ausência tua em mim. Que algo bendito te traga, para que minha alma assim repouse, durma em você. Que você durma em mim, por mais trezentos mil anos ou somente por um luar. Diga sim pra mim! Dê ordens à minha dor. Diga a ela que saia rapidamente, porque agora é o jeito teu que irá me invadir. Dê ordens ao meu coração. Diga a ele que te acompanhe. Que não se perca de você. Ordene que minha poesia seja tua. Reclame do meu assombro. Me beije quando eu menos esperar. Me queira quando de meias eu estiver. Briga com a distância que insiste em nos perturbar. Diz sim pra mim? Diz Sim... porque o meu Não está mais que preparado!

NÃO, não saia da minha vida nunca mais!

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Os SEM textos
Dry Neres




Parece que foi ontem. Ainda lembro-me do primeiro, VAZIO que saiu de mim há exatamente 176 dias. Desafiei a própria idéia que eu tinha de mim... e busquei máscaras ou MASK, como preferir. ELA me surgiu de forma inusitada. Minha produção poética cresceu exarcebadamente após tal aparição. Entre BUTTERFLY, descobri indecifráveis PLANETÁRIOS em que suas paredes traziam como escritura: SUGA-ME! Sinto cada fibra vibrar de forma peculiar quando me recordo do instante em que minhas mãos choraram ao escrever com tanta ternura "PEQUENA" CAROL. Deliciei-me ao som de Los Hermanos em sua CASA PRÉ-FABRICADA e soube através de LEMBRANÇAS trazer A DOR E O BEIJO DA ALMA que tiravam meu sono. Com o TOQUE SUAVE das tuas mãos, aprendi a ouvir o principal órgão do meu corpo: O CORAÇÃO. Entre tantas letras, entre tantas palavras e inquietações, marquei um ENCONTRO com MINH'ALMA. E a surpresa foi tanta que até Gabriel O Pensador, deu seus ares de graça com ASTRONAUTA. Em meio a tantos esses SENTIMENTOS MEUS, percebi sutilmente que A PALAVRA tomava conta de todo o meu ser. Que sem ela eu não saberia balbuciar no escuro, os escritos que me levariam a sorrir em forma de CARTA AOS MEUS AMIGOS.

Ganhei sabedoria incomensurável ao ver a GUERRA GELADA, que muitos Joãos, Marias, Gustavos, Patrícias, travam todos os dias... dentro... fora de si! SONHO com cada instante mágico em que a DESPEDIDA possa se reverter em retorno. E o que me inclina a SORRIR são os DEVANEIOS NUM GUARDANAPO que volta e meia me pego a escrever. Diariamente as MÁQUINAS me convidam para ser partícipe de toda sua configuração assustadora. Ousaram até me questionar, com toda sua frieza: AFINAL, OS ANJOS EXISTEM? Fiquei perplexa logo, com essa HOSTIL DIFERENÇA e resolvi me enclausurar no que edifiquei afim de me livrar de todas as loucuras do mundo moderno. Lá, na minha FÁBRICA DO PENSAMENTO, descobri que meu corpo pode ser mais leve, leve como pluma... com A DANÇA das ÁGUAS VIVAS Claricianas. E a cada segundo que me permitia ficar na minha fábrica, na nossa fábrica, pensava nas METADES minhas que haviam ficado perdidas durante todo o percurso. Minha FLOR DE LIS, me lembrou que A LÍNGUA É O QUE NOS UNE. Disse que eu não me preocupasse, porque afinal ainda existem ALMAS CÁLIDAS. Nessa viagem que me permito fazer, desafiando minha memória poética, desafiando os recôncavos dos mistérios das criações que exalam como perfume Celeste, digo-vos COM CARINHO que nada mais sou do que PEREGRINO, em busca do Amor, em busca do SER "ONOMATOPÁICO".

Não me importo com a lonjura ou extensão de cada palavra dessa. Sem elas, eu não seria o que sou hoje. Em JULHO, CODINOME EU!... Pude sentir o vento que sabia revolver sutilmente cada poro da pele minha, anunciando que DESCOBRI QUE ANJO TEM NOME: MEIRELES. Em cada descoberta... um susto! A PARTE FINAL DE CADA EXTREMIDADE SUPERIOR, me fez chegar à REFLEXÃO que nesse mundo as coisas tão mais lindas, são as que se repousam no INDIZÍVEL. EU ACHO que DURMO ALI NO MEIO -nos- RESPINGOS DO TEMPO, no LIVRO DO ESQUECIMENTO, nas RE-LEITURAS - que faço da - MEIRELES. E sei, aprendi a ler mais que o nome: E O NOME DELA É CECÍLIA!... Hoje digo com convicção! Ser ARQUITETO DE MIM MESMO, me fez perceber que posso ser maior, mais alto... que posso alçar vôos como gaivotas e reconhecer que O MUNDO PEDE PAZ.

Paz essa, que podemos encontrar, nos traduzindo... escrevendo! Em 146 CARACTERES, quis expressar todo o meu amor, toda a minha canção a um ser que despertou em mim os mais sublimes sentimentos. Segredo: Isso ainda mora aqui... Mas hoje descansa em paz, leve! Em cada ESCOLHA, soube dizer com mais firmeza que o CODINOME, AMOR deveria estar sempre assim, perto de onde podemos tocar IN MEMORIAN nos corações dos NA-MORADOS. O DESTINO, inerte à escolha, me ensinou que as coisas são ASSIM, fora do controle do que planejamos ser. Somos como VIAJANTES, perpassando as fronteiras do TEMPO, procurando LIBERDADE e O SILÊNCIO. Surpresa maior, foi descobrir meu tom MEMORIALISTA, que volta e meia, em meias voltas, me inclinava a ficar FORA DE ÓRBITA, AQUI, O QUÊ, ALÉM.

Além de mim, de Outrem. AS FLORES QUE BEIJAM MEU ROSTO em cada manhã, me trazem novamente o SILÊNCIO II que preciso encontrar meio às multidões. Porque esse me explica tudo DO QUE EU PRECISO SABER, e em constante VIAGEM, descubro de forma um tanto dolorida, que tudo é EFÊMERO. Sigo assim RECONTANDO DA VIDA e ELAS - A LUA E A MENINA voltam a me aparecer. Em outros rostos, em outros formatos, em outro alcance. Decidi que EU VOU TOCAR A LUA e pra isso, preciso me livrar DOS SOLDADOS QUE DANÇAM EM MIM e de alguns SENTIMENTOS QUE NASCEM. Preciso aprender mais com O MENINO DO PATINETE e deixar ser banhada pela TERRA ONDE CANTA MEU SABIÁ. Quero passar mais tardes com JOÃO, O PALHAÇO e sentir-me protegida assim, pelo BERÇO DO MEU FASCÍNIO. Quero FOTOGRAFAR minha inquietação com o ato de escrever e contar pra todos, que tenho UM SEGREDO, UMA RESPOSTA.

Com os SUSSURROS - DO VENTO, vejo-me À FLOR DA PELE EM CONFISSÕES DESORDENADAS. Vejo-me INCONTROLÁVEL, vejo que ainda não aprendi a beijar o que tanto preciso: O Amor! Na BATALHA NOSSA DE TODOS OS DIAS, continuo com o desejo de ser MAIOR, MAIS ALTO e CAMINHANDO, pretendo descobrir o MEU SEGREDO maior. Porque sim, eu sei que TALVEZ AINDA SEJA amor o que eu sinto por você, sei também que em meio a tantos VÔOS perpassando até pelo DIA EM QUE DEUS DERRUBOU A CAIXA DE TINTAS e a minha curiosidade em saber se é tudo isso FALSO OU VERDADEIRO, me perco, me deixo com a MINHA FEBRE, na DIALÉTICA DA DOR que quis enclausurar com a ausência tua. Mas sei que preciso de uma cama para dormir. E isso SERIA COMO DORMIR NO COLO DO TEMPO, e conseguir ver através DO GLOBO OCULAR que o grande ESPETÁCULO é o que NÃO APRENDI A DIZER, acerca DO VERBO AMAR. E desafio-te: DECIFRA-ME! Decifra-me para que eu possa compreender O QUE ENTENDEM POR AMOR...

Chego, chego quase SEM fôlego, no que me veio em forma de sussurro, ousadamente. O que balbuciei como sendo OS SEM TEXTOS. Cem textos em 176 dias. Sem textos porque descobri que nada sei. Sou uma "des-Textada". Preciso de mais, mais e mais. Esse é meu alimento, esse é o meu motor. Esse é o meu cansaço, minha dor e meu sorriso maior. Amo a palavra, amo a cena, amo o instante mágico em que os dedos se descompassam e atravessam folhas e comem lápis e deitam em mim, assim... como tatuagem, roupagem, espelho. Chego, chego quase SEM fôlego aos meus SEM de cem TEXTOS. Respiro você, respiro o que pensas agora... Decifra-me, agora!

-Agradeço de coração a todos vocês... Que amam a palavra... que a elevam... que dançam comigo nessa corda que é a escrita, na dor de saber se nossos próprios olhos se agradarão, se as almas de outras pessoas se alimentarão. Em especial: Rinnaldo Alves, Bianca Alves, Kátia de Carli, Anderson Meireles, Mauro Rocha, Ana Diniz, Gerlane Melo, Cris Fontes, Martha Thorman, Amanda Manfredini, Su... Marias, Joãos, Zés, Jorges, Anas!

Meus beijos.

Sinceramente,

Drielly Neres - Outubro/2008

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O que entendem por Amor
Dry Neres




O que entendem por Amor, meus caros?
Seria vontade de abraçar o mundo?
Seria um abraço com uma arma apontada para os punhos, cabeças?
Amar é invadir todo o Eu do outro?
Ou apenas, invadir residências?
Demonstrar amor talvez fosse um seqüestro ao coração.
Demonstrar amor talvez fosse seqüestro da alma e corpo, com morte no final.
Seria Amor ou Doença?
Ninguém tem as chaves do que chamamos hoje de Eu... Ninguém pode querer encarcerar sentimentos no coração de Outrem. A doença foi diagnosticada. A doença se chama Posse. Esta já soube fazer mal a milhares e milhares desde a existência do primeiro Ser. Esta se encontra em muitos lares, aqui, acolá... dentro dos flashes dos jornais ou não. Dentro dos fios telefônicos e das emissoras ou somente dentro dos lares humildes dos que não conhecem luz, nem televisão.
O amor é maior. O amor é mais alto. Não posso chamar de amor, algo que faz mal, algo que alimenta tanto que causa indigestão. Tenho medo, tenho medo sobre o que entendem por Ele... por Amor!
Sinto muito pelo desfecho triste que houve com o caso da moça de Santo André... dos desfechos trágicos que acontecem todos os dias, com os que ainda ousam nomear, dar predicados errôneos a sentimentos tão sublimes. Que a alma da que se foi possa se tornar leve... bem leve. Que o corpo da que fica, possa ser confortado. Mas já é sabido que esta tem uma alma do tamanho do mundo. Soube mais que predicar... soube viver o que chamamos de Amizade. E que ao que quis seqüestrar almas e corações... que a Justiça Divina se encarregue de cuidá-lo para que possa ser alguém melhor. Sinceramente, Drielly Neres. Outubro/2008.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Decifra-me
Dry Neres




COMO PAPIRO PRESO NA GARRAFA, ME FAÇO. Vou encolhida para que ainda me sobre espaço. Vou de meias porque a noite pode fazer frio intenso. Vou de carona, porque perdi identidade. Como astronauta marinho, me deixo. Vou de calças longas, não quero me molhar. Vou com as mãos nos joelhos, preciso pensar. Com tampa, proteção, sentada... sigo a minha viagem. Preciso de atenção, preciso só de coragem. Pensei em deixar isso como história em quadrinhos. Descobri tristemente, que não caibo nas páginas grandes dos livros. Sou personagem que invento a cada hora, mas sobretudo, sou humana só de passagem. Tenho várias caras, vários mitos, vários gritos. Eu não caibo nas literaturas. Sou personagem dos livros de Hamlet, sou o vento que perpassa teu corpo cintilante, fugaz.


COMO PAPIRO PRESO NA GARRAFA, ME FAÇO. Quisera descobrir os mistérios que rondam minha breve existência. Quisera saber do aqui, do além. Os remédios não me dão mais alívio. As músicas parecem sugar-me para um túnel, desse mar. Como astronauta marinho, me protejo. Quem sabe nas ilhas do Alentejo, quem sabe fico nas águas a afundar.
Penso que não sei nada sobre mim. Digo que meus auto-retratos são fiéis. Como medir fidelidade em mãos que escrevem dores que não se sente? Como medir fidelidade em mãos que deixam de escrever seus reais desamores, dissabores? Eu me mostro demais. Sou teu livro vivo, a dona dos teus "ais"! E de suspiros ofegantes morre meu coração, porque nessa vida-passagem, pareço não me encontrar. Caminhos confusos, respostas que vem e vão... em vão!

COMO PAPIRO PRESO NA GARRAFA, ME FAÇO. Quem sabe nas ondas do mar, eu veja minha sorte. Quem sabe eu vá habitar o mesmo lugar onde mora a Dona Morte. Talvez a melancolia seja só esforço para parecer triste. Na verdade, sorrio por dentro. Tenho a alma por vezes, exorbitante. Sei que nessa garrafa que vagueia, encontrarei trilha, roupagem. Quero que os ventos soprem cada vez mais pra longe. É no inabitável que me surgem as mais belas canções. É no inabitável que minha voz ecoa mais fortemente em mim. Consigo ouvir as fibras que se movimentam em meus músculos. Consigo ouvir a voz branda que emana do diálogo que faço com meu Eu... na dialética. Me decifre. Ou não me decifre. Me transforme em quadro. Eis que o meu mistério é
estar assim... pairando entre o que não sei, entre o que você acha que sabe de mim... entre o meu verdadeiro Eu. Decifra-me, não.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Do verbo Amar
Dry Neres




Arquitetonicamente projetado, este verbo veio conosco em nossa fabricação. Sei balbuciar, mas a conjugação me foge ao alcance dos dedos inquietos. Me entrego às ondas do mar, me deito onde o céu faz habitação na esperança de ser sugada pela força do amor verdadeiro, arrebatador, sem definição. Cansei de dar nomes aos meus amores que não sabem que são meus. Cansei de derramar canções aos pés dos que não sabem guardá-las.

Minuciosamente divago, passeio em vários mundos, várias peles, vários cheiros, vários... Desperto paixões, sou acometida por encantamentos que me vêm por meio dos mais indescritíveis sorrisos doces. Aprecio o enlace que minha alma realiza com os corpos que me dançam freqüentemente. Eu sei que não preciso de vários mundos. Só quero um. Só me faria feliz plenamente, o que tem você, mas o nosso mundo parece viajar no espaço. De nau, virou nave! De porto, virei miragem.

Ainda reparo nos teus jeitos quando tenho a chave para adentrar em teus pensamentos. Teus jeitos, teus cheiros. O teu sorrir é algo que me alimenta, acalma. A sua liberdade me assusta e me convida para morar em você. Mas não é de verdade. É idealização. Desenho. Escrita. Quero uma literatura viva. Quero peles que saibam se desgrudar das paredes e ganhar cor nos olhos teus.

Rezo-te ainda! Guardo os e-mails, os beijos, os nãos, as horas, as fotos, os textos, as mãos. Rezo-te ainda! Porque pareço ter mordido enquanto beijava-te e pareço ter arrancado um pedaço teu que mora aqui do lado esquerdo. Essa parte tua, grita todas as noites. Gela minha alma. Abraça-me em silêncio. Faz-me tremer quando despercebida estou e ela pulsa nos meus órgãos internos. Estremeço. Meu leito. Meu amor que dorme agora. Meus afagos são seus, em memória. Desenho-te só para te sorrir nos dias em que recordo dos dois sóis que me apareceram após a noite em que minha alma beijou a lua que minguava austera no céu lilás.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Do que não aprendi a dizer
Dry Neres



Caminhos vários - Pensamentos soltos

A teoria dos iguais - O preconceito dos diferentes

Um peregrino a caminhar - Entre pedras, lá...

Não sei, não sei! - Eu procuro abraços desconhecidos

Ainda espero amores antigos - Entre tantos

Procuro só um ser - Me procuro ali no meio

Espero que você me ache - Entre o amarelo e o singular

Espero que eu saiba - Do que não aprendi a dizer

Mesmo sem saber - Ouso porque sinto

Ouso porque quero - E tudo que quero

Se traduz em quatro letras - V-O-C-Ê!

Você que não sei o nome - Nem a cor dos olhos

Você que nem sei se existe - Ou se só habita meus sonhos

Você que no meio de tanta gente - Me chama a atenção

Eu que te espero nesse barco sem velas - Em desalento e solidão

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

O espetáculo
Dry Neres




-Acrescentarás versos de ilusionismo aos olhos dos que desejarem atravessar tua alma. É o que a incessante voz do meu inconsciente talvez mais sábio, tem me dito desde tempos imemoriais. No meu palco... danço, escrevo, vejo, minto, canto... espero! Espero que um dia eu possa saber descer as escadas sem ficar tonta, confusa, desequilibrada. Eu ensaio todos os dias na frente do mesmo espelho a minha verdadeira desconstrução. Eu escrevo uma história que nunca será possível ser vivida. Acrescento pessoas ao meu âmbito sentimental e, sobretudo, sinto falta singular de cada uma quando as nuvens chamam-nas para algum outro lugar longe do alcance dos meus pensamentos. A cada espetáculo, vejo sorrisos e alfinetes arremessados em minha face. Às vezes, penso até ser uma espécie mais moderna de acupuntura adverbial. Sei que os julgamentos são muitos. E quanto aos meus julgamentos sobre meus atos, posso escrever um livro. A minha ingratidão junto aos elementos desse mundo é tamanha, que volta e meia me esqueço de alimentar os pássaros que pousam nos meus olhos, esqueço-me de deixar cair doces para as formigas, esqueço que a existência é um breve pulsar, um instante mágico de bater de asas e de sorrisos de criança.
Lembro-me com clareza dos meus primeiros teatros... quando menor, gostava de fingir que sabia compreender todo o mundo e fingir que a distância entre os vários mundos era mínima. Quanta nostalgia, quanta saudade sinto daqueles momentos inatingíveis e mais sublimes! Hoje, só sei contar degrau, enquanto na verdade deveria esquecê-los. Nesse espetáculo, posso ser quem eu quiser... ave, vento, céu ou solidão. O problema vai ser depois de algum tempo, reconhecer minha face nas águas limpas de alguma nascente que hei de encontrar pelos caminhos de Dubai ou pela Pasárgada. O difícil mesmo é saber fazer alguém sorrir, quando seu desejo é dizer: - Me abraça. Só me deixa chorar! E os meus fingimentos continuam. Eu não sinto dor, mas sinto necessidade exorbitante e um tanto transitória de cantar que sinto. Na verdade, minha alma repousa nos sentimentos bons e não saber onde estou me dá a sensação de linha solta ao vento. Eu quero voltar. Mas pra onde?
E se não puder ser mais você... seja assim mesmo!

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Do globo ocular
Dry Neres



"Penso que não cegámos, penso que estamos cegos. Cegos que vêem. Cegos que vendo, não vêem"! - Ensaio sobre a Cegueira - José Saramago.

Penso nos vultos e nas mãos que não sabiam onde tocar. Penso no sorriso teu que a memória conseguiu capturar. Não preciso do seu nome, sua descrição, nem de foto sua. Eu te conheço sem ao menos ter contemplado tua face. Eu te reconheço pelo perfume que exala da alma tua. Passei uns dias preso ao véu do entendimento profundo e percebi que a minha visão é tão superficial, rasa. Caminhei descalça sobre os escombros da crueldade humana, sobre a falta de condescendência dos seres dessa terra. E nos gritos das mulheres, percebia o choro das crianças. Os instintos se afloraram e o Naturalismo então ressurgiu. O lado animalesco do homem nunca me falou tão alto. Não se importam em perder suas intimidades, não se importam em conviver com seus dejetos, não se comovem com a fome do homem que mora ao seu lado. Na verdade entendem bem o sentido dos verbos importar e comover, todavia suas forças parecem estar num andar de cima onde não alcançam. Fingem esquecer-se de tudo que um dia aprenderam como certo. A busca pela humanização grita. E pra isso, é preciso mais que olhar. Penso que nos olhos é o lugar onde habita a alma dos homens. Mas e se perdemos os olhos? E se a cegueira nos tomar? A alma terá de se alojar em outro órgão, em outra casa. Somos todos cegos. Não reparamos o sinal avermelhado, nem as faixas que mais parecem zebras pintadas na capa negra do asfalto. Somos todos cegos. O sol nos anuncia todos os dias a renovação e só conseguimos visualizar na chuva, um vão. E só conseguimos identificar alguém pela cor, ou raça, alguma definição. Somos todos cegos... de alma, de mãos que insistem em tocar só o que se vê, de vozes que insistem em vociferar o que é preferível sentir, de cores que não aprendemos a definir. Somos todos cegos que pensam que vêem, mas que a calçada continua sendo um obstáculo, um muro. Queria dizer mais, mas a cegueira me tomou o falar.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Seria como dormir no colo do tempo
Dry neres






Quantas vezes já te pedi um abraço?
Quantas vezes já te contei do meu cansaço?
Meu corpo pede calma...
Minha mente desafia a alma!



Tô com cara de doente... Fico a imaginar onde se perdeu minha imagem reluzente com ares de epopéia dantesca. Minha pele queria sol que a queimasse, mas só encontra condicionado o ar que gela toda vez que entro nessa sala. Meus olhos queriam óculos escuros ao se cruzarem com os raios do mesmo sol, mas só encontram lente sem cor ao se sentarem nessa sala gelada, com máquinas frias e idéias refrigeradas. Se eu finjo minhas dores, ninguém acredita. Se eu conto dos meus amores, muitos duvidam. Eu não caibo na idade que tenho. Minhas roupas estão pequenas pro tamanho da alma minha que cresce, cresce... num movimento breve e sutil de abre e fecha, de abre e fecha de olhos que envelhecem. E se eu escrevo... por vezes volto dez anos, outrora avanço cem. E se no tempo eu encontrasse paternidade, desejaria pedir com ares de criança que busca o leito, que ele me deixasse dormir. Pediria sem medo ou receio que ele me deixasse ficar em mim. Arrancaria de seus lábios pitorescos um "Sim" quando minhas mãos pedissem para ele me deixar descansar. O burburinho ofegante dos ponteiros me assustam enquanto acordada me deixo. Mas se eu dormisse no senhor de todas as coisas, envelheceria com certeza, mas seria tudo mais calmo, mais leve. E no acordar eu encontraria alguém que soube repousar naquilo que as filosofias todas aconselham: Repouse no tempo! Faça dele seu colo! Durma nele, mesmo que acordada. Seria como dormir no colo do tempo e ele me diria: Eu sou a resposta aos teus abraços perdidos e paro o ponteiro para que você veja o sol nascer oito vezes ao dia, viajando noutros mundos onde atravessar pontes se traduz no meu maior sorriso. E aí me pergunto: O Tempo não poderia também ser Deus?

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

A dialética da dor
Dry Neres



"Tudo é dor
e toda dor
vem do desejo
de não sentirmos
dor". - Legião Urbana

Penso no homem como uma eterna ferida aberta. Como uma cicatriz de questionamento existencial sempre em carne viva. E antes da existência... O que existia? Acredito infinitamente que o amor já era nascido. Talvez seja uma das únicas certezas de que permito-me ter gravado em meu peito: a de que o amor não tem datada idade de nascimento, por existir desde tempos imemoriais e de que a dor é fruto dessa existência que nos cerca. Nunca couberam, (o amor e a dor), em nenhuma literatura Florbeliana, Ceciliana, Machadiana, Freudiana... Por mais intimidade que chegaram a ter para lidar com eles, ninguém nunca soube esculpir sua verdadeira face. Acredito que por ser algo tão divino, tão sagrado que não é permitido à mão do homem traduzir. Penso que na filosofia, nem o Platonismo, nem as figuras Dantescas, conseguiram racionalizar o que o homem ousou chamar de amor. Poderia ter outros nomes, como loucura, como sol, como doce, leve... mas o homem insistiu em chamar de amor. E aí vejo sabedoria.
No mesmo compasso, quando o homem nasceu, veio com ele um órgão não incluso nos estudos do corpo humano: a dor. Sim, chamaria de órgão, porque tudo que mora dentro de mim, passa a ser parte de um todo do que chamo de Eu. Muitas vezes a dor funciona como estímulo contra a não acomodação. Por vezes, ela funciona como sepulcro do que um dia chamaram de vida. Do que sei e posso falar substancialmente é que o motor da existência humana se baseia nela. E é um exercício interessante ver cores, belas canções, belas lágrimas, no espelho que reflete o que sentimos e que nos causa inquietação, desespero, esmagamento interno. Quando penso em esmagamento gosto da figura que meu inconsciente constrói, de uma mão arrancando pálpebras e olhos.
Existe sim a dialética, a própria contradição em ser correspondido e se encontrar no Outro e entre amar quem não nos ama. E às vezes, funciona com o amor, a pintura de ser mais bonito, mais vivo, mais... mais tinto, um amor quando se sofre. Quando se quer alcançar aquilo que disseram que você não pode tocar. A dor nos permite curar nossas doenças. A dor nos sopra canções dentro de mares onde não conseguimos visualizar o fim. Ah, a dor... é parente de primeiríssimo grau do bem ou mal amado amor.
E a essa dialética só devo agradecimentos, porque de toda a literatura que penso que sou, tenho esses papéis vivos, essas tatuagens que são irmãs e eternas. Do lado esquerdo o amor, do lado direito a dor. Volta e meia se beijam, volta e meia se deitam na dança interminável do que chamamos de ato de respirar.
* Dedico este texto a um Ser que o perfume é de poesia. Que o abraço me transporta desse lugar comum e me faz habitar reinos inatingíveis. Que o sorriso consegue ter a luz do sol, mesmo que nas noites frias de neblina. Para aquele de quem eu ouvi palavras que me fizeram caminhar para a área educacional, porque ele ama o que faz, porque ele come literatura e música e amor: RINNALDO ALVES em sua Brasilidade indiscutível me encanta, me fascina! Um beijo, meu carequinha! *;*