segunda-feira, 23 de março de 2009

Diálogo das Consonâncias
Dry Neres



Pensei na forma melódica que é o viver... Toquei a morte de forma um tanto despercebida. Vi lágrimas rolarem das faces nossas, das faces amigas, daquele sarcófago que centralizado se fazia naquela sala fria. As mãos espalmadas e no 'olhoaquele' traços de dor sem descrição. Vi flores de morte, velas sem sorte, roupas escuras na indicação do luto. Vi 'ladoutro' morte outra, lágrimas-rios outras. Nós nascentes e morrentes, falantes e emudecidos. Nós, nadas. Nós, pó. Nós, véu. Ela, agora túmulo. E penso nas canções. A natureza chorou ontem ao entardecer. As lágrimas dos anjos derramaram-se sobre nossas cabeças. A grama enverdeceu-se para receber-te. Ouvi dizer que dos pássaros emanavam canções de pêsames invólucros do diálogo das consonâncias que é a vivência/morrência nossa.

Foi como escutar Radiohead numa tarde quente, de muita gente, com sorrisos nulos. Num campo minado onde o X imperceptível a esses olhos terrenos delimita quem será o próximo a habitar a mansão dos doentes de espírito... Ou melhor, os ausentes de espírito, visto que espírito aquele deixou de morar no corpo este. Como se conformar? Como entender que a jornada de vida tem fim? Como aceitar que a figura da morte com seu cajado impiedoso bate à porta nossa, da família nossa? Pensei que morna seria eu ao me deparar com cena aquela, mas vi-me desconsolada, vi-me amedrontada com essas consonâncias contraditórias.


Vai ser impossível não deixar uma lágrima cantar quando naquele antigo local de morar dela, meus pés se calcarem e meus olhos visualizarem o seu local de repouso e observação da gente. Vai ser impossível não lembrar e não sentir remorso da forma despercebida que temos, Humanos, em esquecer-nos de dar a atenção devida aos que compõem nosso amor. E é inevitável pensar que poderíamos ter feito mais, que poderíamos ter amado mais.

Nada é definitivo. Nem a morte é o nosso estado final. Ainda existe mais depois dela. É nela que a grande jornada se inicia. Mas infelizmente não conseguimos conjugar o verbo conformar... Por enquanto não!


'No alarms and no Surprises'... Diz-nos como entender?



*Que as nuvens a abrace, minha querida Bisa... Que as rosas que tanto apreciava possam beijar sua face tão cansada. Faça das nuvens seu algodão-doce e dance com o vento agora que pode, agora que seu corpo já é tão leve. Amamos-te!

5 comentários:

Poeta Mauro Rocha disse...

Um tema interessante, a morte.O que seria da vida sem ela e depois dela o queseria da morte sem a vida.

Blo como sempre.

Beijos!!

Anderson Meireles disse...

A morte é o crepúsculo da vida...
Da mesma forma que o fim do dia ainda é dia, a morte ainda é vida!
Lindo texto!

Babes disse...

E porque muitas vezes se "morre" em vida...
Talvez muitas vezes de "viva" em morte...

Como sempre, leio Arte nas tuas palavras!


Meu beijo Pensativo

Anônimo disse...

Tão triste esse texto...=/
Morte é um assunto delicado.
Só o tempo mesmo pra secar as lágrimas que brotam do coração por que não se consegue esquecer.
Boa sorte, Dry!
Beijoo Byebye

Unknown disse...

Nada é definitivo minha amiga, nada...adoro sua escrita e como você se coloca e se trasporta para o texto...e os teus pedaços se montam em poesia, dor, espera, alegria e fascinio...