sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Escolhas que não sei fazer
Dry Neres


Nunca, nunca mesmo me vi diante de uma situação tão dolorosa. Não se decide uma vida, como quem decide que roupa usar. Sempre fui péssima em lidar com escolhas. Não sei coordenar bem nem se uso o anél no dedo polegar ou médio. 'E me aparecem duas coisinhas'. Venho oscilando a umas quarenta e seis horas mais ou menos. Ora penso saber o que fazer. Ora, penso ter cometido ato de impulsão típico meu. E sofro como poeta em duplicidade, sem verso pra cantar. O problema agora não é ausência. É exagero. Quem foi que disse que os amores não são abundantes? Quem disse que poeta não pode amar duas vezes, duas vidas díspares? O retrovisor do meu carro reflete face duma. O espelho auxiliar direito, reflete face outra. Certa música me traz uma. O violão me lembra outra.

Ôh Deuses dos céus, logo comigo que não sei ter o dom de escolher bem. Sinto remorso. Sinto-me como troféu em tempos de competição. E não é bom pro meu coração se sentir assim. Disputada! Ôh elementos vivos desse ninho chamado Terra que abriga e abraça seres de tão ambígua e polar existência, porque abrilhantais meu mundinho singular com duas estrelas duma vez só? Porque não guardaste pedacinho disto para mais adiante, quando a decepção que é certa chegar para o coração dos que se enamoraram por almas? Olha, guardo comigo as lágrimas minhas embrulhadas numa carta com perfume de rosas. Quisera mesmo guardar só os beijos, as danças, os arpejos em braço de violão e em dedos que encobrem mãos. Mas sou artista desesperada, em balanço duma corda só. Aliás, balanço de duas cordas. E digo novamente - 'E me aparecem duas coisinhas'.

Se eu dissesse ser meu coração duro, mentiria. Coração mole é o meu. Coração bobo é o meu, que esquece e tira armadura pra viver de novo o que já se viu machucar a alma outrora lá atrás e daqui pro vindouro. Coração pequeno tá o meu. Cabe bem aqui nesse ato de teclar, mas não sabe abrigar esse turbilhão de emoções que invadem meu ato de piscar, meus olhos em exatidão.

Escolha podia ter outro nome. Escolha tem nome camuflado de castigo. Minhas escolhas, poderiam se chamar, sonho ou pesadelo. Mas não deveriam participar desse momento tão imprevisível meu. Sou desconhecida de mim. Amor é matemática também. Mas nessa matemática não há fórmula, nem cálculo exato.

2 comentários:

Anderson Meireles disse...

Se minha injusta memória não falha, considero este, o melhor texto desse ano.
Ah, como é duro optar entre estrelas...
Estrelas são pontos de contemplação.
Coisa pra olhar de longe, sem tocar!
Boa sorte!

Poeta Mauro Rocha disse...

Tenho que concordar com o amigo Anderson, realmente é o melhor texto até agora apresentado.O amor não é matemática e é por isso que amamos e como as estrelas ele sempre terá um brilho que nos deixa em transe.

Beijos!!!!