sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Aqui, o quê, além...
Dry Neres


Vou
Me puxam
Espero
Me chamam
Preciso
Não vêm
Estou
Não mais aqui
Parti
Sem ver teus olhos nus
Fico
Nas lembranças que fiz
Permaneço
Com os cheiro dos lábios teus
Canso
Meus braços estão sem força
Preparo
Caminho seguro para voltar
Voltei
Pro lar do qual nunca deveria ter saído

Porque teus braços ainda carregam meu corpo pesado, sujo e malfadado pelas torturas que o mundo e seus males trouxeram para mim. E fui marionete, e fui carro sem freio, fraca e insensível para a voz mansa que emana dos céus, e descem com flores de carmin. A voz mansa, a poesia da vida, dos seres, das gentes, solenes... A poesia é o próprio sopro, um papel vivo. Nós somos poesia, letra e som e luz... nós somos! E através dela, podemos voltar... e através dela, deixarei de ser porto... serei eu, mar.



Se você no meu barquinho quiser navegar

Preste bem atenção, ele pode não voltar

Talvez ele te faça querer montar cabana

Ou apenas diga: Tchau Maria, tchau fulana



Meu barco não tem vela, nem remo, nem chão, nem pedaço, nem aço... serei eu, vento.
Meu mundo não tem você, nem ele, nem ela, nem vós, nós, com, todos, meus... serei eu, loucura.
Meu corpo não tem veia, coração, fígado, ossos, olhos, mãos, cãos, ferozes... serei eu, paixão.
Meu nome não tem letra, nem voz, nem são, nem veio, pra quê? ... serei eu, incógnita.
Serei eu, razão.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

As flores que beijam meu rosto
Dry Neres




Elas às vezes trazem espinhos, mas mesmo assim, não deixam de beijar. O beijo seco, mórbido, moribundo... o beijo! Minha alma dança com balanças e pingos no olho. Minha alma quer morar em mim, mas é uma luta tão grande... Mas é uma sinfonia cintilante que me leva, me leva, me leva pra longe. Eu vejo uma corda invisível e vejo também roupas rasgadas com botões de flores amarelas, azuis, transparentes e flores, só flores. São flores ou são só minhas mãos? Sei que tocam suavemente, como toca o anjo sua trombeta. Eu recuo! Caminho entre as águas que mais parecem escadas que vão me levar ao reino onde a lei é o amor. Caminho entre farpas que o tempo também me deixou. Caio nas redes dos peixes que lancei ao mar uns três mil anos atrás. Invento brinquedos novos, colo algumas peças e "cabeças-quebra" de fotos que meus pés arrancaram com toda ousadia das areias da praia... A mesma praia que eu prometi que construiria uma casa de folhas... não folhas de árvores, mas de cadernos... com todas as letras que firmaram o alicerce da minha ausência de mundo, da minha fuga intensa, eterna, pretenciosa... Reparo que à direita, um velho tenta plantar mais flores no pico da montanha e eu me pergunto o porquê de ser tão alto. E fito o céu e posso ler a resposta: lá em cima é mais difícil de alguém arrancar, lá ela fica perto dos teus pensamentos que voam como tesouras de asas e bicos sorridentes. As flores que beijam meu rosto, não beijam meus olhos... elas são poucas ou muitas, muitas e poucas. Em que direção elas vão? Quem há de fazê-las retornar à alma que chama por olhos encantados? Todo o brilho se perdeu, se prendeu e se soltou. Quando se compreende bem as coisas, perde-se o encanto por elas... porque a cor que me move, ainda está no desconhecido, ainda está nas ruas que eu não sei o nome e nos planetas que não tenho o endereço para correspondência. O encanto deve ter ficado no armário, ou no porta retrato que criei no celular... talvez na máquina fria e orgânica que guardo a cada click, a mudança que as flores que beijam meu rosto me proporcionam. Eu vejo a flor que nasce, cresce e morre... a morte é só uma transformação necessária... a hipótese é o estado final do pensamento fascinado pelos nadas e tudos que a existência nos impõe. A hipótese é o estado final do lápis que foi apontado, porque antes era árvore que antes era semente. Dos pingos e das balanças, das roupas e das notas, do tempo e do infinito, do céu e da terra, do princípio e do fim... Me despeço! ...dos anexos sem passagem de volta... nunca da vida. Porque a vida é simplesmente uma dádiva. Abrace-a com as pernas e beije-a com os braços e lhe dê flores com a ponta do nariz!

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Silêncio
Dry Neres



FALA, GRITA, ANDA, CORRE, FALA, ANDA, CORRE, GRITA... FALA!

SilênciO!!!

Emudeço diante da lonjura de alcance em que teus pensamentos se afastam dos meus. O amor me rouba as falas ensaiadas, as músicas previstas, me rouba a sanidade, a coerência e a verdade. O amor é o carro-chefe da vida humana... mas alguns ainda insistem em fazer dele tapete para se deitar, insistem em fazer dele local de repouso certo, Porto fixo e imutável. Ele não se prende. Ele quer correr, andar, brincar e gritar em silêncio. Ele não precisa de voz externa. Ele fala através do corpo onde é templo. O amor gosta de cheirar rosas e beber água em nascentes. Ele é inventado. Uma pintura! Um oásis, ilusão. O amor nos rouba as chaves do carro e também as do coração. Eu confesso ser desconhecedora de tal dádiva. Toda vez em que eu me arrisco a tocá-lo ele foge em seu cavalo dourado com armaduras transparentes. Mas não... eu não aprendo nunca! Preciso deixar ele vir falar comigo, preciso fazer com que ele sinta minha falta... eu não preciso fazer nada! Ele viaja, viaja... o mundo é realmente encantador! Como pudera eu acreditar que ele acampasse comigo? Eu sinto o cheiro de romance nele. Mas tudo o que posso oferecer agora é uma comédia com ares desencantados. Eu vou subir... essa montanha. Vejo um príncipe e vejo princesas, sapos e orquestras. Vejo luz e vejo nada. Vejo você caminhando na ponte, mas minhas pernas se entrelaçaram nos arbustos de uma pedra pesada, que eu mesma criei. Você tá indo... olha pra trás e sorri às vezes. Eu sinto seu perfume e seus jeitos em roupagens que não existem. Você flutua e alça vôos para uma nova viagem. Não sei se volta, se parte, se fala... em silêncio! Ah, o amor... é tirano e divino. É eterno e efêmero. É silêncio e grito! Mas eu...

Emudeço e fico sentada na eterna calçada esperando que algum turista deseje fazer excursão no meu mundo ímpar e de um colorido nebuloso.

sábado, 16 de agosto de 2008

Do que eu preciso saber
Dry Neres


Que as janelas não ficam, vão
Que os seios escondem o coração
Que o véu é curto e fino
Que a sombra esconde o divino
Que eu não preciso saber fazer rimas, porque meu corpo é uma escala de notas que formam uma só. Eu me sinto penetrada, em paredes que formam pinturas tortas onde todos precisam de mim, onde todos pedem aos gritos minha ajuda... mas não sabem me ajudar. Eu me vejo solta, inundada por caminhões de dores do mundo que não contemplam as minhas dores. Porque de tudo que vejo... vejo névoas e bosques e frios pássaros de asas congeladas que pousam sublimados em algo irreal, em sonhos perdidos, em desejos antigos. E que quando sentada, penso estar em pé em meio ao nada longínquo que quero muito alcançar. São minhas viagens que parecem mais serem bipolaridades. Não são! Eu só acordo num dia que faz 437 graus fahrenheit em que eu descubro que as areias do mar são doces e plumas leves de deitar em pé. Descubro que minhas pinturas são secas e minhas tintas sem cor. Descubro que a cor da minha pele e alma e dedos é formada por livros e poesias não lidas. Porque eu não sei quem eu sou. Eu sou hipótese? Eu sou vida? Eu sou a lua que se reflete nas águas quentes que descem correndo de terno e gravata? ... e que querem me levar rumo ao conformismo de uma sociedade mergulhada nos ínfimos recôncavos da cegueira? Eu não quero roupas, não preciso de nome, não quero estado fixo nem telefone celular! As pessoas me confundem e eu ainda assim, espero entendê-las nas suas ambiguidades que são as minhas também. Eu não sei do que eu preciso saber. Eu não quero saber de nada. Eu corro das certezas, mas por mais que pareça racional demais, elas doem menos. Minha fala pode parecer irreconhecível, mas boca aberta e vociferação, me fogem da sanidade que no momento preciso comer. Eu sou hipócrita quando digo que entendo, que espero. Eu sou egoísta e fingidora de compreensões. Eu não quero ser sincera, nem lida. Eu não quero ser... porque do que eu preciso saber é de que eu não preciso saber de nada. A sabedoria é corda para a forca, a sabedoria nos faz sentir os pulmões cheios de confiança exarcebada. Eu não quero ser sábia. Eu não quero ser... verbo! Verbo que muda de acordo com o sujeito... Eu não quero ser! Eu quero ser ignorante ao ponto de só saber que eu nada sei, como já diziam os pensadores antigos. Bipolaridades? Não! Humanismo.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Viagem - ao que molha
Dry Neres



Ah, eu queria o colo de um rio que desce chorando amarelo e branco... E os sóis que cantam formando desenho em nuvem... E mergulhar meus erros tolos nas correntezas que logo batem numa rocha quente. Bagdá talvez, Salvador, Poá ou Ouro Preto... tanto faz. Eu queria mesmo, repousar em outras camas, beijar outros livros vivos de história, matemática, alemão. Porque entre a Nau e o Porto tem um longo caminho de incertezas e escolhas despercebidas. Porque entre a Nau e o Porto existe o maior inimigo do homem. Porque entre a Nau e o Porto, não existe... existe o amor que se esconde entre os postes e esquinas e mesas de bar. O encontro que meus dedos tocaram uma vez, anseia por ser bebido vagarosamente, dia após dia, com você. Eu fujo do que é claro, entro na minha caixa particular de Pandora, e encontro lá o misticismo que minha alma pede para viver. Mas na verdade o que eu queria era achar uma ponte que firmasse caminho doce para que chegássemos iguais, ao que molha. Ao que molha nossa boca, nosso coração, nossos pés que se balançam bem em cima do ar; a chuva que não precisa cair pra dizer que chegou, nem as pedras precisam se mover pra você dizer que sim. É um lindo sonho-de-sonho que não acaba nunca. A menina toca o chão pela manhã que ainda é noite e pensa: - Não dá mais pra mim! ...Quando pela tarde que é quase noite chega, ela diz: - Eu preciso ficar mais um pouco!

Os porquês que tangem a imaginação incomunicável do poeta com a rosa, estão escondidos entre as paredes fixas que foram imortalizadas, santificadas. Está impregnado em minha pele e em cada copo d'água que minha garganta molha, se molha, te beija. Hiperbolicamente falando, sei que é imenso, maior que tudo, maior que os céus que cobrem nossos corpos enxutos e frios e rígidos, o que sinto e quero sentir. O Porto talvez mude de roupa, a Nau talvez vá para Xangai... quem sabe eu desencontre e me despeça desse amor em Duruelo de la Sierra ou na Estação da Luz que acorda em São Paulo. Quem sabe na parede de algum museu daquele, eu encontre seu rosto criptografado em línguas ilegíveis... não importa! Porque eu sei escutar seu canto até na língua das sereias, até na língua sua... muda. Eu me casaria em todas as igrejas de Portugal, mil vezes... na Capela das Almas, ou na Igreja dos Grilos, na Capela dos Alfaiates ou de Fradelos. Ao que molha... minha sede... eu iria! Iria a Funchal ou Coimbra, iria de Trindade a Brasília. No Congresso, nas ruinas gregas de areias que nem o Saara tem. Ao que molha... eu não iria! ...já estou! Mas a Nau não pousou da viagem... vou me molhando então, de Cecília à Florbela. Até o dia em que a rosa desejar se molhar e desça da sua casca fugidia... espero que o Porto não tenha mudado de roupa, nem ido a Xangrila, ou em Pernambuco. Ou ao que realmente, molha! ... mata a sede.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Efêmero
Dry Neres



As folhas secas que passam, voam, entoam... cantos, risos, vestes... celestes! ...ao vento! Uma vez, minhas mãos viram uma lágrima caída num travesseiro; ela parecia ter vida própria! Se movia de acordo com as pálpebras que se tocavam lentamente, sem ar, asfixiadas e em sal. Minhas mãos viram também nascer uma rosa numa manhã ensolarada e quando pela tarde as buscava para regar, encontrou-se apenas uma pétala que dançava ao ar. Várias vezes, sorrisos me procuraram após noites longas, de choros longos, de dores vivas. Quantos lábios beijaram meu coração e quantos se foram, perdidos, sem terem me conhecido. A morte e a vida se entrelaçam a todo instante. Elas têm um ritual fora do comum. Ambas vêm quando a gente menos espera. Eu não sei falar bem dessa passagem em que a alma desencontra o corpo; nunca toquei-a com tanta precisão. Todavia, já vi muita gente morrendo ao passo que vive e vivendo enquanto quisera morrer. Efêmero é um copo d'água dos que bebem sem sede, ou o Rio Ugab na África do Sul que não permite que as crianças se banhem nas suas águas, ou a menina que brinca de fazer bolhas de sabão enquanto anda de bicicleta, sem as mãos.

Oh, mundo de sinestesia amplificada! O que é que você deixa passar? ... sua respiração? Sua história, razão? O que passa também fica, se congela, permeia... os poros da pele, os poros... dos olhos seccionados, das mãos que querem fugir do corpo e abraçar os sexos; das vidas breves e dos momentos eternos que as almas silenciam e formam impérios onde as paredes desenham o amor; onde as pedras ao chão desenham a dor que finge que finda. Construímos assim a humanidade! Homens fortes, de coração-fraco... velhos que tossem e não encontram repouso-abraço, mulheres que amam amar, mas não sabem que o amor grita no escuro-silêncio-rápido. As cartas de amor que os pombos levam às caixinhas do correio, que ninguém lê. Dos livros empoeirados que ficam na janela debruçados esperando um beijo do pássaro que pousa rápido, bebe e voa ligeiro: o beija-livro... E de que tudo passa, passa-rápido como caminha breve a sociedade em uma perna só. Onde o que é condenável se traduz em apenas, desconhecido. Ninguém anda contando quantas formigas-doces, passaram por nós num dia cheio, mas é fácil contar pra todo mundo quantos são nossos desgostos e afagos não recebidos. Ninguém conta quantas vezes não estendeu a mão por onde passou nas galerias, onde os mais desfavorecidos lhe pediam olhos amigos, mas se conta tão rápido o cardápio gordo do passeio no shopping das pessoas felizes que não são de verdade.

As águas que lavam meus cabelos já se foram, passaram. Essas linhas já são velhas, passaram. Este rosto não cabe mais em mim, porque já é risonho, passou. A dor não dói tão devagar, porque é forte, não passa. O amor já é mais amigo, porque se transforma e se eterniza. Não importa o que passa... O que vai determinar a construção do seu império de riquezas inumeráveis (as que não precisam ser tocadas) é somente o que fica. Fique e demore... dentro, fora, entre!

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Recontando:
Da vida - Dry Neres



Quando eu era pequena, sonhava em ser professora e em poder exercer a linda arte de ensinar! Agora, que mais velha me faço, estou prestes a realizar um sonho de menina. Mas agora é diferente: descobri que vou aprender ao invés de ensinar! Me demorei numa leitura que eu deveria ter feito a algum tempo atrás. Eu teria aprendido a caçar pipas antes. Teria aprendido a importância de se exercer uma coisa chamada, coragem. Da vida que se vive, recontada... tudo passa muito rápido. É a velha efemeridade dos fatos que o tempo me ensinou ser o regente das vidas dos seres nesse mundo. Do sonho que se pega, pouco se fica; das pipas que no céu são "entoadas", só se escutam algumas depois de algum tempo.

Eu não sentia a dor assim de forma tão intensa. Eu não chorava com lágrimas tão salgadas. Eu não tinha tanto medo do que me espera e nem vontade de te arrancar soluços com minhas linhas. Eu não tinha a escrita tão carregada de teias; numa dessas, pode estar você! (...quando mais moça, brincava de inventar histórias, sem escrevê-las. Falando sozinha, com o vento... entre dinossauros e mundos fantásticos, eu não sabia traduzir em letras os meus devaneios que pareciam tão poéticos!) ... Pelos corações por onde passei, soube deixar um sorriso de despedida imergido em dor; em cada corpo que morei, soube deixar saudade do que não vivi.

Hoje, tudo o que eu queria era ser uma viajante. Hoje, tudo o que sou... sou uma fazedora de ficções reais... realidades simples, de pensamentos soltos e confusos que se fazem árabes, irlandeses ou xiitas se você me pedir. De tudo que sei, sei pouco. Do muito que não me fora permitido conhecer, sei bastante. Quereria saber tocar as flores antes de beijá-las. Quereria saber fotografá-las antes de arrancá-las. Quereria mais: saber esquecê-las antes mesmo de tê-las inventado. Eu só escrevo, porque não aprendi a fazer nada disso! - "Seria mais útil medicina", todos falam. Mas com minhas linhas, se te arranco soluços ou espanto, me contento. Mentira! Se me contentasse, pararia... Tudo me distrai e chama a atenção. Da estrela única do céu fazendo companhia à lua em formato de concha, até a menina que brinca de ser mulher e dirige as suas próprias escolhas.

Direção! Da vida que se vive, recontada... eu só espero poder seguir o que me diz meu coração. Azar o meu que eu não o ensinei a ler Cecília: "Ou isto, ou aquilo"... ele deixaria de ser faminto e de me pedir pão e vinho ao mesmo tempo; pois um sucumbe ao prazer do outro e não fazem boa junção. Dos pares ímpares da vida que se vive, recontada... sou um coringa na mão do bom jogador. A jogada maior, espero que o façam... e que se lembrem do meu desejo primeiro! Que eu não me perca da minha coragem-ausente, e nem mesmo do meu sorriso que desfila sobre o palco de dor que alguns fingem conhecer... e que da vida que se vive, recontada... essas linhas minhas, possam fazer parte de você.

Um barquinho na água, a menina... que virou mulher. Não tem remo, nem espada. A imagem sua, se reflete no espelho que não é de ninguém. A menina levada, de fala ousada e que ainda brinca de bem-me-quer nas cifras que forma com a língua dos dedos a escrever. O barquinho, a água, o banco do remo que não se tem. Eu só quero que: ele leve as linhas pelos sete mares. Quem sabe um dia, alguém me chamaria de poeta... quando a loucura fosse considerada sã e quando os olhos aprendessem a falar.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Elas: A Lua e a Menina - Dry Neres



Eu prometi a uma menina hoje a tarde que escreveria sobre um Ser que desperta quando o Sol dorme. A penúltima letra do nome da menina é a primeira da nomenclatura que revela essa "entidade" tão ilustre. Cá estou e me deixo fofocar sobre essa personagem! Vaidosa, tímida, silenciosa, ela se mostra. Escondeu um sorriso e fez brotar na face um ar mais sereno, sério, cheio de mistérios! Gosto de contemplá-la, sorrir pra ela... sentar na pontinha da sua calda e lhe revelar o que o brilho da manhã talvez queira me levar. Eu já pensei em morar na Lua. Demorei e ela acabou vindo morar em mim. Curioso! As suas transições são as minhas; ela se move de acordo com os acordes que a Terra forma. E cada nota tem um som perfeito! Até que um dia, me foi permitido escutar a Lua cantar. Os lábios se moviam lentamente e eu como de costume, não movi nem os olhos para que ela não parasse. Eram respondidas minhas melancolias. E ela vociferava que as dores dela ninguém conhecia. Disse que é a metade perfeita de um Ser que só aparece de dia. Quando ela chega, ele se foi. Quando ela desce, ele sobe... nunca se encontram. Exceto... num eclipse! Do grego Ekleipsis, que significa, desvanecer! Funciona mais ou menos assim: a Lua passa na frente do sol, acena rapidamente e balbucia três palavras apenas; ele deixa ela partir, e diz outras quatro. É a felicidade mais clandestina que já vi. Mas aqueles breves segundos se fazem únicos e eternos para as entidades celestes. Olha menina, eu não sei falar de nada que mora em mim! Mas a Lua pediu pra te dizer que ela abriga as dores de todos os mortais e que o motivo de não sorrir é a dor que sente ao tentar esfriar até o congelamento total de cada uma; pra que a gente suporte as nossas, com menos peso. Ela olha num ponto fixo, sem se virar, pra que ninguém se sinta desmerecido quando a contempla. Assim, todos podem olhar de qualquer ângulo e ver a mesma Lua. Exceto... aqueles que desejam olhar por dentro. Estes sim, verão um ventre que sabe abrigar estrelas. Ela adora quando eu descanso na sua calda. Ela se sente tocada, abraçada, beijada... quase humana!