Dry Neres

Elas às vezes trazem espinhos, mas mesmo assim, não deixam de beijar. O beijo seco, mórbido, moribundo... o beijo! Minha alma dança com balanças e pingos no olho. Minha alma quer morar em mim, mas é uma luta tão grande... Mas é uma sinfonia cintilante que me leva, me leva, me leva pra longe. Eu vejo uma corda invisível e vejo também roupas rasgadas com botões de flores amarelas, azuis, transparentes e flores, só flores. São flores ou são só minhas mãos? Sei que tocam suavemente, como toca o anjo sua trombeta. Eu recuo! Caminho entre as águas que mais parecem escadas que vão me levar ao reino onde a lei é o amor. Caminho entre farpas que o tempo também me deixou. Caio nas redes dos peixes que lancei ao mar uns três mil anos atrás. Invento brinquedos novos, colo algumas peças e "cabeças-quebra" de fotos que meus pés arrancaram com toda ousadia das areias da praia... A mesma praia que eu prometi que construiria uma casa de folhas... não folhas de árvores, mas de cadernos... com todas as letras que firmaram o alicerce da minha ausência de mundo, da minha fuga intensa, eterna, pretenciosa... Reparo que à direita, um velho tenta plantar mais flores no pico da montanha e eu me pergunto o porquê de ser tão alto. E fito o céu e posso ler a resposta: lá em cima é mais difícil de alguém arrancar, lá ela fica perto dos teus pensamentos que voam como tesouras de asas e bicos sorridentes. As flores que beijam meu rosto, não beijam meus olhos... elas são poucas ou muitas, muitas e poucas. Em que direção elas vão? Quem há de fazê-las retornar à alma que chama por olhos encantados? Todo o brilho se perdeu, se prendeu e se soltou. Quando se compreende bem as coisas, perde-se o encanto por elas... porque a cor que me move, ainda está no desconhecido, ainda está nas ruas que eu não sei o nome e nos planetas que não tenho o endereço para correspondência. O encanto deve ter ficado no armário, ou no porta retrato que criei no celular... talvez na máquina fria e orgânica que guardo a cada click, a mudança que as flores que beijam meu rosto me proporcionam. Eu vejo a flor que nasce, cresce e morre... a morte é só uma transformação necessária... a hipótese é o estado final do pensamento fascinado pelos nadas e tudos que a existência nos impõe. A hipótese é o estado final do lápis que foi apontado, porque antes era árvore que antes era semente. Dos pingos e das balanças, das roupas e das notas, do tempo e do infinito, do céu e da terra, do princípio e do fim... Me despeço! ...dos anexos sem passagem de volta... nunca da vida. Porque a vida é simplesmente uma dádiva. Abrace-a com as pernas e beije-a com os braços e lhe dê flores com a ponta do nariz!
9 comentários:
"Caminho entre as águas que mais parecem escadas que vão me levar ao reino onde a lei é o amor...
A hipótese é o estado final do lápis..."
Pra mim você mora em um reino onde a lei é o amor e um lápis nunca acaba!
O reino da certeza de que nada é certo.
Um abraço!
Uma dádiva
Uma dívida
Que devemos
A Deus
À própria VIDA
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Eu disse lá no Anderson que acreditava em Deus como se fora Ele a própria POESIA. Tenho meus motivos...
Uma boa noite!
"Minha alma quer morar em mim"
Entre tantas linhas, tantos posts, tantas coisas que já li, nada até então foi mais simples e mais magnífico!
Forte e doce... Perfeito!
Um grande beijo!
Olá
Simplesmente fascinante!
Abraço
os espinhos estão para as rosas, assim como a saudade para o amor. e formam o equilibrio
Um beijo
Impressionado pela coreografia de suas palavras perco-me neste cenário a perceber que quero ir embora para a beira do mar e descansar na tal casa de folhas deste caderno seu que traz o cheiro sabor da sua caligrafia.
Cadinho RoCo
Olá ,
Estou encantada com o teu blog, parabéns.
Tua escrita me levou ao um mundo de magias, és sublimes cada palavra. Belíssimo este texto, tem alma, tem amor, por isso é perfeito.
Agradeço lhe a visita e as palavras gentis e volte sempre que vc quiser, as portas estão abertas pra te.
Beijos,
Cris
Dry
Se é possível, cada dia vc fica melhor...
Lindo seu texto.
Que seu lápis seja mágico, para nunca deixar de ser...
beijo
Estou com publicação no Meu Nosso Blog hoje (28/8) quase policial. Por isso lembrei-me de você, como se lembrar de você fosse tão difícil assim. Pronto, direi a verdade, sempre lembro de você.
Cadinho RoCo
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