segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Sen-sações
Dry Neres



Não! Definitivamente minha idade não é essa. Não pertenço a este século. Nem estas roupas me abraçam. Pareço objeto antigo, máquina a vapor, pena tintada de escrever em papiro.
Não! Inconformadamente vejo que amo demais. Sinto demais. Sofro demais. E nenhuma vida, nenhum pensamento parece me alcançar. Vejo-me descalça em noite fria, sem chão pra pisar, sem mensagem pra te mandar, sem papel pra rabiscar. Sou poeta sem canção e criança sem colo. Poderia dizer destemidamente que sou avião sem pouso.
Eu sinto falta dos nossos sorrisos primeiros. Dos seus braços nos meus, em verbo confortar. A saudade me vem ao lembrar-me das suas mãos nas minhas, suas doces mãos, delicadas mãos, insinuantes mãos, inesquecíveis de fato.
Sabe pequena, no começo... Eu pensei que... Que...
Sim! Pensei que a paixão tinha te inspirado uma espécie de loucura que é advinda da mesma.
A ponto de você me querer perto de ti. A ponto de fazer crescer em mim um sentimento sem nome. Algo que eu custei acreditar que poderia me acontecer, depois de eu ter visto barcos partirem do meu porto que eu confiei ser seguro. Você, anjo meu, não me veio como embarcação... Talvez seja esse o motivo de seu nome ainda estar inscrito aqui nos meus livros e anéis e cd’s e relógios sem ponteiro... Você veio personificada, em corpo, alma e em vermelho-amor. Não me foi personagem de quadrinhos, ou ultra-romantismo Byroniano. Foi-me verdade. Foi-me passível de toque.
Mas oscilou. Desfez-se em mil faces, mil sorrisos, mil olhares... Dois mil jeitos indecifráveis. Eu não te acompanhei.
E eu me assusto com a forma com que vi e vejo e verei seus olhos desgrudarem-se dos meus. É um desenlace. Perda.
É uma insônia birutícea e pericoronarite. Ahhhhhhhhhhhhhhhhhh! O perigo era iminente desde o princípio e eu sabia disso. Nunca se deve entrar em histórias inacabadas. Quis ser figurante, sabia que só assim ficaria. Mesmo assim... Fui, intensa que sou. Estou, sem nada de ti. E te vejo voltar pro lugar de onde nunca deveria ter saído. E me vejo sem lugar nenhum. Porque em minhas construções, eu desenhava meu corpo no seu, o seu no meu...
De todas as muitas dores que já provoquei em meu órgão de bater descompassado, o tal coração, essa tem-me sido a mais longa e a que mais dói. Porque te fiz cura pra amores antigos, te fiz antídoto contra mal-humor ou solidão, te fiz injeção de poesia em minhas veias, te fiz minha mas era só imaginação. E agora, sem teu cheiro, seus lábios, seu sorriso, suas letras... E agora...
Até quando farei da minha alma enfermaria para os males de outrem? Até quando exigirei comprimidos de paixão e amor correspondidos dos corpos que se cruzam com o meu?
Tu és conto de fadas. E esqueceu-se de me contar que quando eu fechasse o livro pela primeira vez, as palavras desapareceriam todas de lá. Eu não sabia. E quando abri, não te vi. Esqueceu de me contar também que todo o livro passaria a habitar dentro de mim, no local de guardar memórias. Memórias irmãs gêmeas da Saudade. E lamento oficialmente. Tu não deixarás de ser em mim, tão cedo.
É uma insônia birutícea e pericoronarite.


“Tu és a deusa da ilusão e eu te amo”.

4 comentários:

Anderson Meireles disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anderson Meireles disse...

Inquietação da alma, inquietação do amor.
O segredo você já sabe...encontrar a felicidade nas entrelinhas,
Abraço!

Erick Macau disse...

esse é o grito de todos que tem alma, de todos para quem a poesia e o sentimento são reais.
abraços libertários

Unknown disse...

Maravilhoso! Pena que é dor...que não mora só no papel