sábado, 10 de outubro de 2009

Era pra ser uma canção
Dry Neres




Às vezes a gente pensa mesmo é se tudo está valendo a pena. E a gente se questiona sobre nossa passagem aqui nessa Terra. Onde tenho foco? Onde a minha literatura tem o poder me levar? E de me resgatar? Eu já não sei se tenho carne e ossos e alma. Talvez eu seja somente mais um manequim com o sonho de ser gente. As cores de um cenário ofuscado se apresentam cada vez mais perto de mim. E eu temo o fim de tudo - O meu fim. Tenho sonhos de porcelana que facilmente caem e quebram sempre que me levanto. Criei um personagem que é difícil de alimentar. O meu caráter, já um tanto sem nome, pele, sentidos. O meu caráter já...

Impérios de papel. Montanhas de poesia. E mares de nadas. Vazios. Descontentamento. Sempre que lia nas literaturas as vidas dessas gentes desconexas, sentia pena delas. E agora, tenho pena de mim? São sensações alcoólicas. É só uma saudade que não passa. São só caminhos que se formaram de acordo com minhas escolhas cegas. O meu país foi derrotado por um exército invisível, de inimigos invisíveis que eu mesma criei. O meu país já...


Uma multidão de seres se forma em mim. Verdade e invenção se misturam ininterruptamente. Meus olhos não reconhecem se é dia ou noite. Frio ou fogo. Tudo tanto faz. Tudo a tanto já não vai bem. Eu preciso abandonar os palcos - Os textos. Eu quero quebrar os óculos porque de nada têm me servido diante de olhos cansados de não enxergar o que já me é tão claro. Os meus olhos dormem, porque já têm vergonha de mim. Os meus olhos já...


Eu já pensei tanto em mudar de cidade. Viajar uns três mil quilômetros procurando um cantinho para descansar os meus ombros. Eu sei que a solução está aí. Eu preciso tanto me livrar de mim. Já pensei em queimar os diários. E de que me adianta? Essas letras infinitas já aprenderam a me seguir fora dos papéis. Irrigam minha corrente sanguínea e... Eu preciso tanto me livrar de mim. Eu já...

Nenhum comentário: