sábado, 8 de agosto de 2009

Quase
Dry Neres



Quase nunca me lembro de dizer 'Eu te amo' para os do meu lugar de morar. Quase nunca me sento à mesa para contar-lhes dos fatos inusitados do dia. O aparelho responsável por realizar e receber ligações, tem sido elo rápido de um ou dois minutos máximos. Quase não me recordo da última vez em que afinei meu violão e caminhei pela casa balbuciando canções para fazê-los sorrir. É como se eu não estivesse, não morasse, não permanecesse... Sou estrangeira no meu próprio país. Sim, os anos passam e as 'prioridades mudam'. Deveria o amor também mudar? Ora, se assim o fosse, deixaria tão logo de ser amor. O amor que lhes devoto é insuficiente. Meus olhos transbordam de lágrimas tristes com a minha ingratidão. Penso que se um deles for chamado tão logo para habitar algum andar de cima, eu morreria de desgosto... Morreria de desgosto com as minhas atitudes tão descompromissadas e com a angústia por não ter compartilhado mais momentos únicos com cada um dos que são cidadãos do meu país-primeiro.


Amo-os tão desesperadamente. Sofro por cada foto que não foi capturada para que esta pudesse abrigar sorrisos, abraços... Sofro demasiadamente, porque parece que tenho esfriado com os Meus. Não há poesia que expresse o tamanho de tanto descontentamento com algumas atitudes minhas. Tenho sido desleixada com o sentimento mais nobre que pode existir no peito de ser humano - o amor de família. Tenho sido desatenta e tenho agido como se eu fosse só no mundo. Mas quando a noite chega com mais frio, ou quando algumas circunstâncias me pedem mais força do que meus braços suportam, são eles que me cobrem; são eles que me sustentam. E o por quê desse elo rompido... Eu não sei... Não sei... Trocaria tão facilmente qualquer momento de felicidade por algum instante no tempo passado, em que minha cabeça se encostava naquele (s) colo (s). Trocaria muito desse presente, por todo aquele passado. Sou então outra?


Quase não sei dizer de tanto tempo perdido. Quase não sei quem sou. Por que vim. Quase não estou viva. Tão logo, quem sabe, estarei poeta. E novamente começarei a achar graça dos ipês que florescem. Ou tão logo, nem o mar a me sorrir, será felicidade. Os dias vêm numa velocidade assustadora. Os dias têm sido curtos. O tempo escasso. Quando a gente cria um mundo, pensamos somente na porta de entrada. Haverá de tudo, no final, uma saída segura para que eu possa me esconder dos meus medos? Haverá de tudo, no final, felicidade na trajetória que meus pés escolheram seguir? Haverá de tudo, no final, um quase?

6 comentários:

Poeta Mauro Rocha disse...

Ola!! Feliz dia dos pais para todos os pais de sua familia.

Abraços e beijos!!

Tenha um ótimo domingo.

OBS: Como sempre textos maravilhosos.

Anderson Meireles disse...

Saudade, correria, projetos, fracassos, outros projetos, sonhos renascidos, esperança!
Abraço!

*** Cris *** disse...

OLá,td bem?
Que texto profundo,é assim mesmo que, às vezes, me sinto,em meio a um quase de tudo nessa vida.
Bjs!

Madeira de Cetim disse...

Que bela reflexão... Ainda há tempo poeta!Bom finds!

Lane SoL disse...

Por que, mel deos, logo hoje eu tinha de ler isso. Pronto, a angustia de instala. Me escondo com um lenço, espero que nao vejam meu rosto assustado. - Esse texto me conhece. Rss loucuras a parte, Dry, primeiro: nunca mais passei aqui nao eh? pois tenho abandonado meu blog tbm.. Segundo, adorei o texto.. Ele me faz sentir culpa. Bom, o que fazer. Tudo de novo do jeito certo.

Beijos Dry !

Anderson Meireles disse...

Tive que reler essa corajosa confissão, deixando assim, uma lágrima minha unir-se às suas!