domingo, 27 de dezembro de 2009

Sem graça
Dry Neres





Houve um tempo e ainda há, em que o medo ou a ausência dele, de alguma forma me leva... Existem dias em que eu me arrisco como um trapezista n'alguma ponte sem fundo. Noutros, quando venta forte, sou como criança a procurar o abrigo do colo da mãe. Oscilo entre anjo e demônio. Existem noites em que meu corpo plana gelado e trêmulo, porque sinto que me rondam entidades desconhecidas... Talvez na tentativa de me arrastarem a algum lugar devido, em que eu realmente deva morar. A maturidade me fugiu aos dedos. A minha adolescência tornou-me a aparecer - tenho tido atitudes insanas e divergentes as que eu deveria ter segundo minha idade de cronos. 

O medo de perder as pessoas que amo é tão intenso que por vezes, eu mesma expurgo-expulso de mim os seres amados. Digo-vos: 'Que vás agora que permito, antes que sem o meu consentimento os dias te arrastem de mim'. São tentativas frustradas! Ainda há em mim algo bom. Um Ser que ama, nem que seja num cubículo de espaço do peito teu. 


Neste pedacinho de tarde instiga-me a perda que ainda não tive, todavia que fora anunciada por bocas conhecidas desde tempos breves, agora. Como seria perder o útero que gerou o meu ar? Como seria ter que encarnar a mãe da irmã minha, na falta da mãe de longo sorriso que gerou nossos pulmões e órgãos todos? Ela anuncia: 'Aos três deste lar - para que saibais caminhar com seus próprios pés, porque tão breve chegará a hora tão logo anunciada em que meus olhos não acompanharão mais os teus em terra plana... Talvez num céu acima, talvez num céu'. E ainda disse: 'Não questionem o Deus - para que saibais que a hora de cada um chegará sem que possais frear ou debruças-te sobre os ponteiros do relógio que somos'.


Mais fotos eu deveria ter da vida que vivo. Mais músicas para ouvir ou cantar aos dias que me são dados. Mais sensibilidade ou caráter para fazer da vida - real. Não dá pra viver num mundo de bolha em que o meu rosto não é mais amigo. Num mundo de bolha em que a minha língua não é mais confiável, nem as mãos afagáveis. Já os rostos não são tão conhecidos. E os que são, estão confundidos diante da cegueira 'platafórmica' que consegui desenhar em meus cabelos. 


Alguém: 'Você já pensou em acabar com tudo'?


A verdade dos meus pensamentos: 'Estou pensando neste exato momento'!


O fascínio do meu mundo inventado: 'À frente marchemos. Não há nada a temer'!


Onde encontrar respostas? 

As que encontro nas literaturas, já me são insuficientes.


Como consertar alguns anos de tropeço? 


Como consertar trinta e cinco mil e quarenta horas?


'Você já pensou em acabar com tudo'?

Um comentário:

Anderson Meireles disse...

Nossa!
Pensei se comentaria respondendo a pergunta... decidi refletir mais um pouco e pensei: O segredo da felicidade é não nos permitir o estado de satisfação.
A satisfação é ponto em que se deixa de buscar algo.
Inimiga da arte, a satisfação nos acorrenta e nos obriga a aceitar a vida. Vida que é feita de nascimento e morte...sem opção de mudança.
E essa é a beleza...beleza que se encontra nos infinitos e microscópicos milagres que contemplaremos se aprendermos a nos surpreender mais, e mais e mais.
Escrevo essas confusas palavras com um imenso orgulhos de estar direcionando-as a uma pessoa que não se deixou enganar com as teorias da vida e caminha surpreendendo-se com a beleza...
que é eterna!
Abraço!
PS: Tentei não me estender mas foi impossível. Perdão.