quarta-feira, 13 de maio de 2009

Versículo
Dry Neres


Ela esteve em San Petersburgo. Também não sei o porquê. Ela esteve em cada artéria sua; para se despedir de si mesma, talvez. Impávida e encolhida ela esteve por algumas horas. Queria abraçar todos os seus órgãos. Abarcar todos os seus ‘sentires’. Sugeria a si mesma, minutos contados de respiração. Sorria enquanto chorava ou vice ou versa. Ela construiu um muro ao redor do seu coração. Odiava ler notícias populares. Não, não sabia ser normal. Enxergava beleza na dor. Extraía das canções mais que notas. Vez ou outra abria sua casca e mantinha um convívio social. Uns cigarros ou outros às escondidas até da própria sombra. Cabelos penteados ou somente artefatos. Mantinha um sorriso labial. O que não era o mesmo que sorrir pelo órgão muscular oco, sob o osso esterno, ligeiramente deslocado para a esquerda. Tirava as amarras cotidianas após e, enclausurava-se no seu mundo aéreo, quase lateral. Ela não sabia ao certo o que é o amor. Não sabia exatamente nada de conjugação de verbos humanos. O seu léxico era limitado. Sentir, ela sabia. E só. Bastava. Não comia. Não dormia. E se perguntava o porquê de ter que respirar. Ela morava num casebre. O casebre era ela. Estava nela. Era meio irmã das coisas fugidias. E tinha um medo exorbitante de tocar pessoas. Sabia ela, que dia ou outro as pessoas iriam embora e ela ficaria nua novamente. E nesses dias de frio intenso, ela escreve, escreve. Imprime seus sentidos no seu corpo. Não há muita coisa a fazer. E confundo-me. Estranhamente é confusão. Não sei mais quem sou eu e/ou quem é ela.

4 comentários:

Anderson Meireles disse...

Muitas vezes esse casabre torna-se um albergue e nele habitam muitos..
E quem disse que só 'sentir' não bsta?
Sentir faz parte de existir...
Belo texto,
abraço!

Kamilla disse...

"Odiava ler notícias populares. Não, não sabia ser normal. Enxergava beleza na dor. Extraía das canções mais que notas. Vez ou outra abria sua casca e mantinha um convívio social. Uns cigarros ou outros às escondidas até da própria sombra. Cabelos penteados ou somente artefatos. Mantinha um sorriso labial. O que não era o mesmo que sorrir pelo órgão muscular oco, sob o osso esterno, ligeiramente deslocado para a esquerda."

Acho que é tudo ao contrário. Tudo o que VOCÊ expressou no seu texto é muito parecido com o que eu sinto.

Confesso que me assustei quando vi um comentário novo no meu blog, ele não é muito visitado.
Meus textos são só reclamações sem sentido sobre meus dias mais sem sentido ainda...
Fiquei contente por você ter me visitado...

Ótimos textos os seus! Li tudo o que eu consegui. É que o astigmatismo e o esforço continuo me impossibilitam de ler no pc por muito tempo. Mas voltarei aqui para ler mais e mais você. =)

Um beijo!

Poeta Mauro Rocha disse...

"Estranhamente é confusão" ou será Estranhamente fusão??

sei que é deliciosamente delicioso te ler.

BJS

Kamilla disse...

Já adicionei, você viu? =)

Boa noite.
Um beijo.