sábado, 17 de abril de 2010

À Jovem Brasíl-ia
Dry Neres




Não são simplesmente cinco décadas em idade cronológica. Brasília abriga por si só, muito mais... Mais anseios, expectativas, conquistas, idades, idéias, sonhos, histórias. Antes mesmo da sua fundação, já era projetada, arquitetada, elaborada nos moldes mais singelos de quem quer erguer uma cidade para ser um marco na sociedade; para ser a capital de um país verde e amarelo e da cor de todos os sonhos desse povo que em meio a tantas dificuldades almeja mais coisas belas.
O espaço onde antes era uma cicatriz no meio da selva, hoje se tornou o palco dos mais diversos espetáculos humanos – sejam eles agradáveis ou não. Como belezas, temos os monumentos de forma inigualável, muito bem arquitetados e os campos floridos do parque da cidade, com o nosso lago que mesmo sendo artificial reflete a mais bela luz do sol quando deixa irradiar em suas águas o sorriso de Deus.
Brasília que abriga vários passos, dos que vêm e vão e dos milhares de milhões que todos os dias por aqui passam em busca de emprego ou simplesmente de pão; em busca de acordos políticos ou de um irmão que morar aqui veio, porque no Nordeste não encontraram o que aqui oferecem.
É uma cidade artificial, como uma poesia inventada. É o centro das decisões. É jovem, bela, de ruas solitárias sem esquinas para se sentar e conversar. Mas que reúne multidões quando das reivindicações precisam se levantar. Brasília é um Brasil, cercada por outro Brasil de todos os lados.

domingo, 11 de abril de 2010

In-Dependência
Dry Neres



É um vínculo dos mais extremistas, o que me liga a você. Sabe o que é não saber ser você mesmo, sem aquele ‘serzinho’ que lhe dá sentido até ao bocejar e abrir e fechar de olhos? Eu que sempre quis ser livre, imploro agora todos os dias para que os seus braços sejam o máximo em circunferência do além que eu possa conhecer. Os meus limites estão expressos em você. Não ouso sequer criar novas rotas ou curvas, porque já tenho o mapa e a visão de céu que é estar ao teu lado. E depois disso, não ousaria sentir desejos outros de caminhar sem ser paralela aos teus passos.

Eu que por várias vezes achei bom gosto em estar isolada de mim mesma; de mãos aos bolsos em sombra única e fria... Que achava ser a vida assim até boa de viver, mas sem ter tocado fielmente a felicidade e a graça divina do que é amar... E que acreditava conhecer os mistérios da existência e das pessoas; contemplei diante de ti a mais inacreditável representação do que é não saber de nada além da respiração tua. Aprendi os teus compassos e a musicalidade dos versos ímpares do teu sorrir. A tua voz e o teu sorriso são os elementos mais vorazes da dependência estabelecida de ti a mim.

Depois desse tempo reflito... Já éramos sem dúvida alguma pré-ordenadas a ser uma d’outra. Porque não há explicação filosófica, religiosa ou científica que desbanque o nosso afeto incomum; a nossa sutileza ao cuidar do amor de uma a outra. Almas gêmeas se assim preferir! E se a eternidade não nos couber, certamente inventaremos algum outro lugar para abrigar nossa felicidade.

A paisagem rústica, iluminada lá fora não me abraça... Porque não te tenho aqui ao meu lado para sentir o roçar da ponta do teu nariz no meu, nem os teus pés que acariciam os meus e se abraçam e beijam. O som do vento hoje à noite não se fez amigo, porque os teus beijos não vão morar aqui em meus cabelos. Estou em estado de abstinência tua... E o mais engraçado é que somente doze horas nos separaram. Todavia, qualquer segundo longe de você é como ser estrangeiro de país em estado de calamidade pública.

Casa comigo pra sempre... Amanhã esta abstinência se vai e serei novamente feliz por mais algumas horas em que a minha alma e a tua farão a mais bela pintura retratada em arte moderna ou clássica acerca do conhecimento que nem mesmo temos... Sobre o porquê de nos amarmos tanto assim. Eu não preciso conhecer mais nada... Tudo o que me alegra e faz com que minha vida tenha sentido já está em mim. E com conhecimento de causa, posso dizer: se eu não sabia antes o que era o amor, hoje sei, porque você nasce em mim todos os dias e me é como o próprio surgimento do mundo sempre esplêndido e divino – e me é sempre como o cantarolar das coisas mais lindas do universo.