24 HORAS
Dry Neres
No cérebro, um formigamento externo às estrelinhas do dia destinado ao pensar desenfreado. Chega num cansaço de corpo. Chega num cansaço de alma. É como ser dono de uma balança, e ter a função diária de não deixá-la pender nem para um lado, nem para outro, a fim de resguardar os instantes de sanidade.
Fuligens de ideias inconcatenadas que se misturaram com o que penso ser eu. Tenho caminhado tanto. Os ombros estão arqueados verticalmente, momentaneamente sem batimentos. Os dias correm depressa, e em todos os finais de ano, minhas têmporas doem mais, doem absurdamente mais. Todas as vinte e quatro horas de todos os dias do ano deixam se pesar no final dos ciclos. E a mente parece trabalhar mais que operário nas ideias de Chaplin.
Os sentimentos apertam os sentidos ou é vice e verso. Todos os sentidos do homem escondem-se nos olhos. Os olhos parecem minas com ponteiros de tempo. Os olhos fingem. Os olhos seguram a ponta da alma. E um homem ainda não ganhou a dádiva de ler os olhos de outro homem. Aí está a beleza de tudo. Olhar e não compreender. Teimar e não acertar. Insistir e falhar. Meus olhos estão um tanto cansados do que vêm. Ou quem sabe é só a ressaca anual que resolveu desembocar nesse peito de poesia diária.
Só são vinte e quatro, mas parece uma vida toda.