terça-feira, 27 de julho de 2010


"O amor que eu te tenho é um afeto tão novo
Que não deveria se chamar amor
De tão irreconhecível, tão desconhecido
Que não deveria se chamar amor
[...]
Poderia se chamar primeiro beijo

Porque não lembro mais do meu passado
[...]
Poderia se chamar universo

Porque nunca o entenderei por inteiro"...

Que não deveria se chamar amor - Paulinho Moska

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Biovidadegradável
Somos exatamente aquilo que temos?
Dry Neres



Você tem dinheiro? Você tem filhos? Você tem saúde? Você tem idade? O que você tem? O que você vale?

Efemeridade – palavra que poucos conhecem ao pé da letra como dita as normas dos dicionários, mas que todos sabem exatamente como dói não ter o poder de eternizar coisas, pessoas, momentos. Ainda que façamos esforço descomunal para tal... É impossível! Caso contrário, não se chamaria vida, mas sim filme onde podemos pausar, retroceder, avançar, aumentar o volume. Volume – eu queria poder aumentar o meu volume de vida nesse exato momento. Ouvir da mais leve respiração de criança, até o turbilhão de maquinários de uma montadora de turbinas de avião. Queria aumentar o meu volume pra vida... Pra entender melhor o mecanismo de tudo isso que nos impulsiona, que nos faz sorrir, que nos faz chorar.

Por mais erros que consigamos carregar ao longo de nossa trajetória neste mundo, não devemos ser julgados quando mais precisamos. Ao contrário, devemos ser colocados no colo tal como quando nascemos, na tentativa esperançosa, de ao menos nos sentirmos ainda importantes ou vivos. Viver – ato que poucos conhecem em sua íntegra. Muitos, a maioria conhece apenas o que a grande mídia divulga e metaforicamente, não o que os bastidores ensinam.

Se somos exatamente o que temos, porque então nos preocupamos diariamente, em apenas trabalhar, trabalhar, trabalhar e trabalhar, para conseguir dinheiro. Seria todo homem então como a visão de Príncipes de Maquiavel? Somos então: dinheiro, capital, moedas, reais!

Na minha vã lucidez creio que não. O homem mais duro de coração se ajoelha e se rende ao sentimentalismo que lhe é nato, quando prostrado diante das injustiças que a trajetória nos apresenta. É injusto um pai ter filhos e alimentá-los, doar o máximo de si a eles, amá-los, chamá-los de minhas crianças, e quando esse pai se vê em situação de dependência total, não ter o que é direito de todo ser humano: o amor! Mais do que ver o pai como um problema, dever-se-ia ver o pai como sinônimo do mais puro amor, do primeiro amor, àquele que remete mais brilhantemente o amor de Jesus Cristo por toda a humanidade.

Somos exatamente o que temos? E pra esse pai que tem filhos que se comportam como estranhos? O que tem? O que vale? O mesmo tem o peso da indiferença e vale somente o que consegue vagamente respirar, caminhando de forma bamba, à incredulidade na própria morte.

O meu racionalismo não me deixa mais o ser. O coração esmagado em desejos que me são sobre-humanos. Na garganta, a angústia de a qualquer momento atender a uma chamada telefônica que não trará felicitações, mas somente despedida. Nos olhos rasos, as lágrimas que não caem há tempos por motivo nenhum. Nos poros a sensibilidade e o medo de se sentir cada vez mais humana.

A vida num tubo respiratório onde o ar é escasso. Onde cada tempo é tempo de correr contra o resto do mundo.

Ao meu avô, Luiz.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Na imensidão
Dry Neres



Não sei exatamente o por quê, mas estou assim, um tanto quanto mais apaixonada por você. É que não me sai dos pensamentos a imensidão do teu sorriso. É que ainda hoje faço questão de beliscar os olhos na tentativa feliz de provar pra mim mesma que você faz de mim a criatura mais feliz da face desse mundo.

Dia desses, quis ser a protagonista da Felicidade Clandestina que a Lispector desenhou - leio você lentamente, passo-a-passo, linha-a-linha, metro-a-metro. Leio vagarosamente. Deixo de ler por alguns instantes para que quando eu retornar, eu possa sentir o coração apertar como se fosse a primeira vez. Carrego-te assim, aos braços como o amante carrega na face a alegria indescritível de não ser só no mundo. Às vezes finjo te perder, para que o desespero me tome, a fim de que quando eu me perceber na realidade de ter-te assim minuto-a-minuto, eu possa dar valor a cada sorriso teu que me invada, me domine, me enlouqueça.

Desta vez, escrevo-te com lágrimas na face, pois é impossível controlar a emoção de amar-te e novamente saber que se só houvesse eu e você no mundo - duas Evas - seríamos também felizes imensamente, pois bastamo-nos.  

A minha poesia está demasiadamente aflita, agora neste espaço de horas, porque a minha vontade é escrever até não sentir mais as mãos, a fim de ditar as palavras que se derramam agora, desvairadamente, em meu coração. Você é literalmente um anjo. Uma criança em corpo - ...E que corpo! - de mulher... É minha bonequinha, a minha estrela, o próprio ar que eu respiro. Já não sou eu então! Trans-mu-tar-te-me assim, em sua alma que é gêmea minha. E em nossos lençóis, uma silhueta só dorme - tal como adormecemo-nos no seio uma d'outra.

O teu sorriso... a minhaimensidão! O teu sorriso estampado em mim! Aprendi o que era sorrir, quando os teus olhos vi de perto naquela noite fria de algum ano desses da nossa existência pré-mortal talvez. .
- Que seja infinito - é o que rogo aos deuses que puderem me ouvir... Que o teu sorriso seja sempre o motor e a razão da  minha poesia e assim, do meu próprio viver

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Outro inverno se aproxima
Dry Neres




Quanta melancolia invadiu-me... Não sei se pela leitura de João Cabral de Melo Neto, onde lhe ocorria de o amor lhe comer tudo - até os papéis onde ele quereria um dia escrever o nome; não sei se pela chegada breve de mais um inverno me trazendo mais idade... Sei que sinto saudade de um monte de coisas. É uma melancolia nostálgica. Uma espécie de poesia que escolhera derramar o seu líquido em meu corpo. E eu assim, desnuda... Entregue a pensamentos de poesia e violão. Não sei se por ter mais idade a gente se afasta do sorriso simples de criança. Não sei se  perdemos a vontade de sujar as mãos com o doce do algodão...

As horas se passam e os questionamentos multiplicam-se. Calculo o inexato de quilômetros que já percorri... e neste cálculo ineficaz percebo que o ponteiro do relógio asperamente só caminha em uma direção e me assusto ao esfregar os olhos e perceber-me mulher, não mais criança. O peso das responsabilidades nos impõe algumas irresponsabilidades e desafetos com nós mesmos. O peso da idade faz-nos viver numa corrida interminável contra nós mesmos, contra os sonhos que passam depressa diante da realidade que chega sempre em horário inglês.

Escuto som escocês... É hora de recolher as asas das palavras que precisam ser caladas - Elas sempre insistem em falar mais do que deveriam - Não tiveram a educação de esconder, camuflar, tal como o artista chora internamente, para que a platéia possa sorrir. E se a vida fosse tão real... Eu não seria!