quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

As câmeras do mundo
Dry Neres





O que captaram nesses trezentos e sessenta e cinco dias que ficaram para trás? Souberam dizer das dores, dos amores, dos senhores? Apegaram-se somente à estética ou identificaram com precisão a beleza escondida por trás das lentes e flashes?

Houve câmeras solitárias... Aquelas que fotografaram a intimidade dos anônimos. O frio que ventou forte no coração dos famintos. A sede que congelou os lábios dos que sofrem da ausência de fé. Nossos olhos fotografam diariamente ângulos díspares de seres idênticos... E os olhos têm o petulante costume de capturar somente o que lhes é conveniente. O que as câmeras do mundo aprisionaram em imagens?

Progresso? Avanço tecnológico? Acordos políticos, climáticos? Reencontros? Abraços? Congressos empesteados de corrupção? O efeito estufa? Asfaltos, erosão? Desabamentos? Enchentes, furação?

Multidões que se aglomeram e ainda sim a solidão está em cada um. Uma multidão de solitários famintos de si mesmos. Famintos de essência, caráter, voz. São mudos mesmo quando com cordas vocais perfeitas e presentes. Têm dificuldade de se locomover rumo à ordem e ao progresso mesmo quando vestidos de verde e amarelo e com duas pernas, duas mãos e coluna vertebral na vertical em perfeitas condições.

Haverá ainda alegria em fotografar o som dos pássaros? Será ainda cada ano mais frio que os outros? Continuaremos a caminhar às escuras rumo a lugar nenhum?

De tudo o pouco que sei é que ainda que as lentes das minhas câmeras estejam nubladas com a fumaça impenetrável do que o ser humano se tornou, devemos continuar a sonhar! Deveremos fazer nascerem sorrisos nos rostos trépidos e tristes e sedentos! A beleza da poesia existe independentemente da nossa vontade... E o dom de sermos poetas, Deus nos dá de graça... Ele só pede que aos poucos possamos limpar das nossas lentes as dificuldades, os desapegos, os desenganos... E que possamos desenhar no lugar, mais abraços, mais amor, mais compaixão.

Que o ano que se inicia seja próspero em atitudes mais conscientes, em irmandade, em união!

domingo, 27 de dezembro de 2009

Sem graça
Dry Neres





Houve um tempo e ainda há, em que o medo ou a ausência dele, de alguma forma me leva... Existem dias em que eu me arrisco como um trapezista n'alguma ponte sem fundo. Noutros, quando venta forte, sou como criança a procurar o abrigo do colo da mãe. Oscilo entre anjo e demônio. Existem noites em que meu corpo plana gelado e trêmulo, porque sinto que me rondam entidades desconhecidas... Talvez na tentativa de me arrastarem a algum lugar devido, em que eu realmente deva morar. A maturidade me fugiu aos dedos. A minha adolescência tornou-me a aparecer - tenho tido atitudes insanas e divergentes as que eu deveria ter segundo minha idade de cronos. 

O medo de perder as pessoas que amo é tão intenso que por vezes, eu mesma expurgo-expulso de mim os seres amados. Digo-vos: 'Que vás agora que permito, antes que sem o meu consentimento os dias te arrastem de mim'. São tentativas frustradas! Ainda há em mim algo bom. Um Ser que ama, nem que seja num cubículo de espaço do peito teu. 


Neste pedacinho de tarde instiga-me a perda que ainda não tive, todavia que fora anunciada por bocas conhecidas desde tempos breves, agora. Como seria perder o útero que gerou o meu ar? Como seria ter que encarnar a mãe da irmã minha, na falta da mãe de longo sorriso que gerou nossos pulmões e órgãos todos? Ela anuncia: 'Aos três deste lar - para que saibais caminhar com seus próprios pés, porque tão breve chegará a hora tão logo anunciada em que meus olhos não acompanharão mais os teus em terra plana... Talvez num céu acima, talvez num céu'. E ainda disse: 'Não questionem o Deus - para que saibais que a hora de cada um chegará sem que possais frear ou debruças-te sobre os ponteiros do relógio que somos'.


Mais fotos eu deveria ter da vida que vivo. Mais músicas para ouvir ou cantar aos dias que me são dados. Mais sensibilidade ou caráter para fazer da vida - real. Não dá pra viver num mundo de bolha em que o meu rosto não é mais amigo. Num mundo de bolha em que a minha língua não é mais confiável, nem as mãos afagáveis. Já os rostos não são tão conhecidos. E os que são, estão confundidos diante da cegueira 'platafórmica' que consegui desenhar em meus cabelos. 


Alguém: 'Você já pensou em acabar com tudo'?


A verdade dos meus pensamentos: 'Estou pensando neste exato momento'!


O fascínio do meu mundo inventado: 'À frente marchemos. Não há nada a temer'!


Onde encontrar respostas? 

As que encontro nas literaturas, já me são insuficientes.


Como consertar alguns anos de tropeço? 


Como consertar trinta e cinco mil e quarenta horas?


'Você já pensou em acabar com tudo'?

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Di-amantes
 Dry Neres



Discretamente, digo-te donzela.
Dos D's denovo,
ditongalmente.
...
Dá de dizer duamor dos D's.
Duencanto.
Duexagero.
...
Dá de dialogar de D,
dizendo - Dam;
dizendo - Dry;
Dias, dedos, dotes, dozes.
!!!!!!
Diferentemente doutros, damo-nos:
d e v o t a d a m e n t e !
Delicadamente di-amantes deixamos.
...
Datilografo dádivas
daí, dalém,
dama duamor da Dry.
!!!!!!
Dum decanato decerto:
decoro.
Declaro-me:
doida diamor, DAMa -
Deidade delonga.
...
Deliciosamente, delírio.
Demasiadamente dentre.
'Desconcertar-te-ei'?
...
Di-amantes, dou-te!
'Desconcertar-te-ei'?
Devorar-te-ei!
Doçura, delas -
duradoura descrição.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Os horizontes ficam verti-Cais...
Dry Neres




Acordei com o teu nome nos lábios.
Esfreguei os olhos com o teu cheiro nas mãos. 
Balbuciei um 'Eu te amo' às escondidas.
Escrevi-te um poema doce de paixão.
[...]
Não que eu goste de rimas ou palavras escolhidas.
É que com seu amor os horizontes ficam verticais.
Não me incomodo em ser romântica ou poetisa.
É que com você encontrei meu porto, meu cais.


quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Vivemos
Dry Neres




Que humanos seres somos (são) esses? Vivemos em eterna revolução contra nós mesmos? Somos tão sujos e anormais que nossas faces são repelidas pelos espelhos? 


Tantas vidas, de tantas gentes... Assim, caminhando ao acaso. Assim, errando correntes. Já não é mais viver enquanto se pisca. Já não é mais sentir o sabor doce da paz da consciência. Somos assim... bizarros! Rimos da paixão alheia. Zombamos da dificuldade outra. Bebemos nosso próprio sangue ateu. Deus? Deus é um chamamento que escuto sempre quando prestes a desabar os prédios ou a tombar os trens, ouço ao longe. Verdade. O que seria? Alguma nova piada. Honestidade. O que seria? Algo novo de usar nos pneus dos carros. Vivemos pensando que amamos. Vivemos pensando ser certo o que nos torna sujos, desumanos. 


Esse, definitivamente não é o mundo em que eu quero criar os meus filhos. Não é o jardim de um éden que eu desejaria viver com minha Eva. Isso é o inferno, fato! Como acreditar no serUmano? Como acreditar em nós mesmos, quando nos traimos a cada instante? Vendemo-nos aos caprichos mundamos e somos dele escravos por escolha.

Algo mais?