domingo, 30 de agosto de 2009

Amor entre iguais
Dry Neres



Já diziam os poetas, que tudo deve se calar diante do amor. Conceitos, arquétipos, razões. O amor é a única verdade que deve ser seguida. Antes de amar alguém, nosso coração não funciona como um 'buscador' de informações, espécie google. Ele não se importa se o meu gênero sexual é o mesmo que o seu. Ele não pergunta onde moro. Ele não questiona nada, pois tudo deve se calar diante da máxima de que se deve amar o seu próximo.
Existem os dogmas, as morais de rebanho, as verdades inventadas por homens que infelizmente não conhecem a verdadeira face do Deus excelso que existe além das literaturas, além das nuvens que o encobrem no céu. Ele é um Pai de amor. Ele derrama lágrimas cada vez que observa os filhos seus julgarem assim uns aos outros.
Amar entre iguais, não é ser diferente. Amar entre iguais, não é deixar de ter caráter, ou coração, ou família. Não é uma deficiência ou anomalia. Deficientes são os que insistem em enxergar apenas com o globo ocular, enquanto que a nossa bússola, deveria ser o coração. Ter preconceito é muito fácil. Julgar é melhor ainda. Buscar razões para atirar pedras nos 'leprosos homossexuais' é tarefa fácil para os ditos 'normais'.
Os que ousam ferir com as palavras, serão devorados por ela, como uma planta carnívora e feroz devora sua presa. Tente exalar mais palavras como: Obrigada, Por favor, Eu te amo, Posso ajudar. Ao invés de: Sapatão, Viado, Homossexual Leproso, Gay. Existem coisas mais importantes para se fazer quando se entende o real sentido da existência. Se você ainda não percebeu isso, talvez seja porque ainda não tenha entendido a frase tão suma de Platão - 'Penso logo existo'. Você existe?
Relato de uma mulher que ama outra mulher (o que poderia ser também o relato de um homem que ama uma mulher - nada haveria de desumano, nada haveria de anormal): 'Desde que te conheci tem sido primavera. Tenho sentido o aroma sutil do amor. Tenho me desdobrado em várias para devotar-lhe cuidados. Faço-o assim, porque nunca a loucura e a paixão, gêmeas que são, me acometeram de forma tão avassaladora. És o néctar dos meus lábios'.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Os cegos do castelo
Dry Neres




Como ousam roubar-nos o amor, meus Senhores? Como ousam fazer soluçar nossos corações tão inundados do vermelho-amor? Imorais são os Senhores! Mal sabem vocês, Senhores de uma verdade inventada, que há pureza inigualável em nossas mãos, em nossos atos. Amamos entre iguais... E o que podem fazer? Matar-nos? Talvez. Mas, nunca poderão roubar-nos de nós!


Porque...


Li Proust, Dostoievski; um diário, poesia. Li a duplicidade dos seres e a invenção do amor. Toda essa literatura me atordoa por ser tão interminável, efusiva. Estou embriagada com o 'intrigamento' que a palavra me causa. Li mentes, países, verbetes franceses encobrindo várias-poucas faces. Escritores que se embebedam do sulco que emana dos lábios densos do amor. Mapeei cartas. Benditas representações humanas. Estive em frenesi exasperado diante da umidade que meu corpo pôde captar de cada expressão lexical. Embriago-me diante da desmistificação do amor. Focaut, Jung... Invoco-os! Deverá o homem sacralizar o amor, ou tão somente, deverá o homem, humanizá-lo. Silencio-me diante da poesia da vida; diante da junção dos corpos dos que se amam em sangue branco e mel divino adocicado. Descortina-se em minha mente romântica a possibilidade de ver o amor, como um caixeiro viajante. E ele entra em mutação. E eu divago nas incertezas que eu julgo ter acerca dele. Sei que amo uma deusa nórdica e ela é real em mim, tal como sei que existo. Basta-me? Tão somente sim! Seguramente, eu a amo como quem tem fome. Ela me ressuscitou! Sinto-me como um rio que não cabe em si. Não há nada de sagrado em mim, exceto ela. E se tua alma desencontrar-se da minha, seria-me então como morrer enquanto vivo. Eu poderia cegar depois de ter amado o teu riso pela primeira vez, porque nada me fora antes tão cheio de cor.


Algum imoral ousaria questionar se então existe amor?

sábado, 8 de agosto de 2009

Quase
Dry Neres



Quase nunca me lembro de dizer 'Eu te amo' para os do meu lugar de morar. Quase nunca me sento à mesa para contar-lhes dos fatos inusitados do dia. O aparelho responsável por realizar e receber ligações, tem sido elo rápido de um ou dois minutos máximos. Quase não me recordo da última vez em que afinei meu violão e caminhei pela casa balbuciando canções para fazê-los sorrir. É como se eu não estivesse, não morasse, não permanecesse... Sou estrangeira no meu próprio país. Sim, os anos passam e as 'prioridades mudam'. Deveria o amor também mudar? Ora, se assim o fosse, deixaria tão logo de ser amor. O amor que lhes devoto é insuficiente. Meus olhos transbordam de lágrimas tristes com a minha ingratidão. Penso que se um deles for chamado tão logo para habitar algum andar de cima, eu morreria de desgosto... Morreria de desgosto com as minhas atitudes tão descompromissadas e com a angústia por não ter compartilhado mais momentos únicos com cada um dos que são cidadãos do meu país-primeiro.


Amo-os tão desesperadamente. Sofro por cada foto que não foi capturada para que esta pudesse abrigar sorrisos, abraços... Sofro demasiadamente, porque parece que tenho esfriado com os Meus. Não há poesia que expresse o tamanho de tanto descontentamento com algumas atitudes minhas. Tenho sido desleixada com o sentimento mais nobre que pode existir no peito de ser humano - o amor de família. Tenho sido desatenta e tenho agido como se eu fosse só no mundo. Mas quando a noite chega com mais frio, ou quando algumas circunstâncias me pedem mais força do que meus braços suportam, são eles que me cobrem; são eles que me sustentam. E o por quê desse elo rompido... Eu não sei... Não sei... Trocaria tão facilmente qualquer momento de felicidade por algum instante no tempo passado, em que minha cabeça se encostava naquele (s) colo (s). Trocaria muito desse presente, por todo aquele passado. Sou então outra?


Quase não sei dizer de tanto tempo perdido. Quase não sei quem sou. Por que vim. Quase não estou viva. Tão logo, quem sabe, estarei poeta. E novamente começarei a achar graça dos ipês que florescem. Ou tão logo, nem o mar a me sorrir, será felicidade. Os dias vêm numa velocidade assustadora. Os dias têm sido curtos. O tempo escasso. Quando a gente cria um mundo, pensamos somente na porta de entrada. Haverá de tudo, no final, uma saída segura para que eu possa me esconder dos meus medos? Haverá de tudo, no final, felicidade na trajetória que meus pés escolheram seguir? Haverá de tudo, no final, um quase?

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Seria minha poesia suficiente?
Dry Neres


O amor me transmutou. Fui lançada a um país que nem mesmo consta no atlas. Tenho aprendido a me alimentar das cores infinitas e das nuanças várias que teu perfume me provoca. Sinto-me mais mulher, mais madura e cada vez, mais amada. Faço planos para o nosso amor. Muitas vezes em silêncio, faço planos de preparar o teu café da manhã e de ser teu cobertor à noite - durante a contagem de infinitas luas - durante o cálculo matemático de incontáveis segundos. Faço planos de ser tua enquanto o amor assim nos permitir. Recorto as impressões que teus lábios me causam e digito-as em minhas pálpebras. Exalo romantismo. Tenho em mim a cor exata do amor. Exalo paixão. São teus olhos nos meus. É teu corpo que me fascina. Permeia todos os esconderijos secretos dos meus pensamentos mais longínquos. Exalo romantismo. E desconheço toda a minha poesia. Tem sido cada vez mais difícil dizer de tal amor. Tem sido mais difícil expressar em linhas, frases, letras tanto sentimento, tanta verdade. Se o poeta é um fingidor... Abandono a minha carreira; abandono a minha vocação... Só sei falar de verdades... E a verdade é que eu te amo... E não sei mais dizer desse amor... Me basta o teu beijo... Ah, e aí eu navego, me perco...!