terça-feira, 26 de maio de 2009

Apetecível Epifania
Dry Neres


I just had an epiphany!

Externar sentimentos. Expulsar demônios. Mandar-se embora de si. Banhar-se em letras. Dormir nos ponteiros de um relógio qualquer sem pêndulo. Sentir uma espécie de torpor. Descantar canções. Dessorrir carícias. Apetecer almas. Epifanar amores. Inventar sentidos. Quebrar conceitos. Desfazer lágrimas. Chover e amanhecer. Dormir e anoitecer. Obter vigor dos abraços. Sugar os néctas corporais expelidos pelos deuses (as). Proferir junção de corpos em forma de manifestos Modernistas. Derramar-se. Morrer de amores enquanto se bebe do vinho ultraromântico. Amor de Shakespeare.


Falta-me alguns conceitos. Falta-me todos. Prefiro os sentimentos sem nome. As relações sem peso. Pés envoltos de meias coloridas. Blusas listradas. Anel no dedo médio. Falta-me algum pedaço perdido em alguma esfera, em algum tempo de alguma memória em mim. Falta-me eu. Sobra-me os outros. Resgatar-me-iam as ninfas, os elfos, os príncipes (as)? Devolvo-me a um estado sereno. De recepção. De aceitação. Quase contente no mundo mudo. Meu aparelho auditivo capaz de discernir cerca de quatrocentos mil sons capta meramente alguns pingos de chuva. A chuva que sou. A chuva constante a que me remeti. Enviei-me em papel de cartas e em endereçamentos à lugar de ninguém. À lugar nenhum.


Sou um livro de tantas páginas, várias páginas. Algumas nulas. N'outras exposta demais. Algumas sobras. Muitos espaços. Sou um livro esperando ser lido. Ousas? Provoca-me? Instruí-me alguma entidade transeunte. Chove-me as suas mãos nas minhas. Chove-me nosso beijo por hora inventado. Não descrito em livros. Não descrito em corpos. Chove-me e amanheço. É uma apetecível epifania. E ora, o que é isso? Não importa. Não importa. Não importa. Isso sou eu - Sobrenatural - Divina - Insana - Patética - Feliz - Sou desejo - Apetite - Pretenção. Humana tal como você.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

O AMOR É A DESCONSTRUÇÃO
DE TUDO O QUE PENSAMOS SABER!



terça-feira, 19 de maio de 2009

Onde estou em mim?
Dry Neres



Eu gostaria de deixar de te escrever, mas meus dedos são como uma locomotiva desgovernada rumo à nem sei o quê. Meu coração dói demasiadamente. E é uma dor maior do que todas as provocadas em qualquer outro órgão do meu calabouço corporal. Eu me sinto como um quarto escuro. Eu estou nublada. Nublei! Sinto-me em dias de chuva. Chovi... Mas não amanheço! Eu até finjo dormir, na expectativa de no fechar dos olhos conseguir arrancar tua figura de amor meu, das pálpebras minhas. Mas, sonho-te. E anoiteço.


Sinto-me como uma cadeira de balanço. Ali, estática. Silenciosa. Fria. Emocional. Passional. Só. E é como se todos os braços de todos os mundos não fossem suficientes para me abraçar. Porque o meu abrigo é você. Porque eu sinto falta do gosto do teu café nos meus lábios. Eu sinto falta do teu sorriso beijando meus instintos. Eu desenho-te em poesia. Tatuo nossa ausência no meu ato displicente de escrever. Não... Não quero te comover com a minha retórica. Antes fosse retórica. Mas é só verdade. Mas é só dor de amor. Amor dói?


Recordo-me com roer de unhas, dos nossos planos de tomar a areia e o mar num gole só. Recordo-te em livros que eu desejara escrever um dia. Recordo-te nos frascos vazios de perfumes que gastei no meu corpo para sua alma cheirar. E dos nossos beijos mais doces, em que o passear de lábios era dança ainda não inventada. Inventamos um jeito só nosso de ser. Fundamos um mundo só nosso, cheio de particularidades, CDS, vídeos, roupas, estrelas. Mas num belo dia, saí para trabalhar, esqueci as chaves... E quando voltei o mundo seu/nosso, estava trancado. Fiquei! Cadê você?


E se eu me revelo tanto. É só desespero. E se meus olhos não disfarçam a dor. É só canção. Eu tenho sido só ausência. Mas é você?


Anoiteço. Emudeço em lágrimas. Onde estou em mim?

segunda-feira, 18 de maio de 2009

De onde vem a inquietação
Dry Neres




Eu imploro aos deuses excelsos que me seja devolvida a loucura que o amor me provoca. Não quero ser racional. Não quero precisar ser racional. Reclamo do anel que não te dei para selar o nosso amor. Reclamo das noites em que eu deveria ter segurado minhas pálpebras com as unhas, para que seu sono fosse velado com mais cuidado. Queria continuar a me apaixonar diariamente por você, por suas birras, seus sorrisos. O amor é desespero, fome, loucura, calma sem causa. O amor é sorriso que cala as lágrimas. Não fui teu pão? Não fui teu cobertor, amor?

Caminho pela cidade, assim descalça. Não me alimento de outra coisa que não seja do teu cheiro guardado em minhas mãos. Eu quero ser multidão. Quero abrigo. Preciso de um relógio sem ponteiros. Quero rasgar os conceitos; queimar as bibli(a)ografias que insistem em confundir nosso amor. Quero cortar as línguas das morais de rebanho e dos pré-con-ceitos que insistem em queimar tua/nossa pele. Nesse mundo de hipocrisia desmedida... Eu quero fugir da racionalidade. Dormir na vertical. Reescrever minha história cheia linhas unilaterais; cheia de teias e esconderijos subterrâneos pro meu Eu.

Eu quero gritar para os conceitos dos ‘Senhores Donos da Moral’ que o amor é maior que tudo. Quero morder as veias das regras, dos i-mora-is. Eu tenho pena de tudo o que nos afasta de nós. Você está em mim mais do que me era permitido perceber. Nem numa raspagem ocular tirariam você dos meus olhos. Eu tenho pena de tudo o que nos afasta de nós. Nem um transplante de pele tiraria seus poros dos meus. Mas, voa minha criança! Vá passear com as ondas do mar que desenham tua pele na minha. Voa minha criança. Amar é saber aproveitar o tempo que Deus nos concede com a pessoa que faz nossos órgãos pararem por alguns instantes. O tempo se derrama. Líquido é. Hoje descobri então, que não sei amar. E ainda cometi um pecado devido à falta de sabedoria no Amor: Pedi pra Deus guardar o nosso ‘enlace de almas’ pra sempre. Pedi pra você ficar na minha vida pra sempre.

Não há custódia perpétua que demarque a permanência do amor em nossas vidas. Borboletas pousam, encantam, e partem. Vão alegrar outros mundos. Você me fez melhor. Mas, no âmbito da minha ignorância e egoísmo, confesso que quereria mais um bocado de alegria.

sábado, 16 de maio de 2009

Meu mundo ficou mudo
Dry Neres



Se eu dissesse que todos os meus órgãos se confundiram, seria pouco. Se eu dissesse que todos os mares deságuam dos meus olhos, seria insuficiente. Escuto o silêncio que insiste em gritar mais de você, de nós. Observei-te em angústia por grande parte dessa noite tão longa, tão dolorida. Eu sinto uma dor descomunal. Sem nome. Com nome. O seu!


Se eu dissesse que poderia suportar com dor pouca, sua ausência mentiria eu exageradamente. Se eu dissesse que deixaria de acreditar na gente, mentiria eu em grande escala. Essa dor que invade minha pele e queima os olhos parece ter sido inventada. Inventamos! Estou ligeiramente morta. Estou morta de amores por você.


Nem que eu tivesse a força de todos os homens, minhas palavras seriam amenas. Este nosso filme amor, eu não escrevi. Esses versos desordenados eu não planejei. A poesia de despedida que tomou conta dos meus lábios não foi ensaiada. A dor que eu sinto meu amor, não cabe nas mais precisas descrições de Kant ou Lispector.


Eu tenho raiva da minha poética por não conseguir exprimir esse desespero da minha alma. Eu tenho raiva da minha poesia, porque você não a alcançará. Meu corpo arde em febre. Minhas mãos nuas esperam pelas suas meu amor, doce amor. Mas vi-te partir definitivamente no cais de um porto qualquer. No cais de San Blás. Se um desejo me fosse concedido, pediria sem exitação para que eu deixasse de respirar.


E vai ser impossível não recordar de cada riso. Do nosso cuidado. Dos seus olhos de mar. Seus olhos de toda a ressaca Casmurra. Dos nossos corpos que se fundiam na mais perfeita representação do amor. Deixarei de conjugar verbos. Deixarei de inventar predicados. Mas uma coisa é fato documental - Você é toda a minha poesia.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Versículo
Dry Neres


Ela esteve em San Petersburgo. Também não sei o porquê. Ela esteve em cada artéria sua; para se despedir de si mesma, talvez. Impávida e encolhida ela esteve por algumas horas. Queria abraçar todos os seus órgãos. Abarcar todos os seus ‘sentires’. Sugeria a si mesma, minutos contados de respiração. Sorria enquanto chorava ou vice ou versa. Ela construiu um muro ao redor do seu coração. Odiava ler notícias populares. Não, não sabia ser normal. Enxergava beleza na dor. Extraía das canções mais que notas. Vez ou outra abria sua casca e mantinha um convívio social. Uns cigarros ou outros às escondidas até da própria sombra. Cabelos penteados ou somente artefatos. Mantinha um sorriso labial. O que não era o mesmo que sorrir pelo órgão muscular oco, sob o osso esterno, ligeiramente deslocado para a esquerda. Tirava as amarras cotidianas após e, enclausurava-se no seu mundo aéreo, quase lateral. Ela não sabia ao certo o que é o amor. Não sabia exatamente nada de conjugação de verbos humanos. O seu léxico era limitado. Sentir, ela sabia. E só. Bastava. Não comia. Não dormia. E se perguntava o porquê de ter que respirar. Ela morava num casebre. O casebre era ela. Estava nela. Era meio irmã das coisas fugidias. E tinha um medo exorbitante de tocar pessoas. Sabia ela, que dia ou outro as pessoas iriam embora e ela ficaria nua novamente. E nesses dias de frio intenso, ela escreve, escreve. Imprime seus sentidos no seu corpo. Não há muita coisa a fazer. E confundo-me. Estranhamente é confusão. Não sei mais quem sou eu e/ou quem é ela.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

38 gritos
Dry Neres



Sou inquieta. Ciumenta. Poética. Sutil. Velha. Nova. Arquetípica. Silenciosa. Ilha de mim. Sou várias em uma só. Multidão de São Paulo. Calmaria em Compostela. Tudo em mim parece acelerar-se. Quando criança, não sabia ter olhos de criança. Quando 20, tenho 70. À frente. Tenho os cheiros de todos os versos que se misturaram com o meu corpo. Confundo-me com os papéis de cartas e diários antigos que se jogaram pelo o meu local de abrigar o sono. Tenho o corpo suave. Mantenho os pés assim fora do chão, na tentativa egoísta de não fazer sangrar o coração. Nomeio o que sou e sinto como estado epifânico, todavia não sei o que fazer com a imagem que vejo nos espelhos. Corro do que descobri. Escondo-me dos registros que guardam de mim. Não atendo aos meus sentidos oculares quando à força esfregam em mim algumas rugas ou os meus lábios de outrora.

E de repente o cenário muda. Sou outra novamente. O que era presente, virou vazio. E mesmo feliz tenho a necessidade de falar sobre tristeza. Isso é arte típica dos fingidores de 'sentires' - poetas. Imito-os. Invejo-os. Derramo-os sobre meu corpo nu de conceitos. Sou quadro em branco à espera da pintura nem que seja rupestre, mas que seja pintura. Que invada o vazio que o branco se fez em mim. Tudo que ouvi no decorrer da breve existência minha até então, se aglomerou em blocos pensamentais que hora ou outra permeiam a parte do corpo meu responsável por sentir dor. Dor por tudo que o ser humano é. Dor por saber que aqui estamos sem compreender porque estamos. E fazemos o que achamos que devemos, todavia não sabemos. Compramos carros, casas, fazemos amor, guardamos algum cigarro... Cantamos, respiramos, fazemos amor novamente e caminhamos. Vejo um circulo nesse caminhar.

38 gritos expelidos num corpo só. Numa alma só-várias. Em questionamentos mil. Em estado de vida-cena-teatro. Somos todos atores. Funciona assim: Sorrimos o dia inteiro, interagimos com o social, almoçamos com os amigos, vamos ao banco. E sempre que perguntam - Você está bem? Dizemos que sim! 38 gritos expelidos num corpo só, são quando os pés tocam onde ninguém pode te ver, analisar, julgar, cobrar. Aí você é você. Aí você tira as roupas, alisa as coxas, amarra os cabelos. Aí é que você chora, promete e implora. É aí que você se vê. Percebe que embora cercado de outro um milhão de vidas, você é só. Porque sua dores não são expressas em veia ou outro material que possa ser compartilhado. Abstrata é. Cabe a você então, transcender os seus 'sentires' e se apegar à mantras, crenças, mundos laterais ao real. 38 gritos expelidos numa alma só-várias quando não se quer falar da beleza de nada. Quando não se permite brincar que tudo é perfeito, que todos são adoráveis. Em cada grito, uma verdade de três versões díspares. Uma verdade só... Somos desconhecidos de nós. Eu, por assim dizer, sou ilha minha.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Carta do homem moderno a Deus
Dry Neres



Por que nos afastamos assim? Não sei reconhecer mais tua voz, e desconheço o calor que emana das suas mãos. Não sei mais sentir falta, nem dos nossos risos dispersos. Tenho a língua inundada de questionamentos acerca da tal fé. Onde se perdeu nossa cumplicidade? O mundo frio está. Congelou-se! Os corações amargos são... As mãos que afago eram pra dar, distribuem a morte, aflição. Sinto que seu abraço se perdeu do meu e minha face escondeu-se de sua face serena. Sou tão pequena Pai... Sou tão insana e profana e artista e humana. Sou mais carne que espírito. Sou mais sangue que água e sou assim igual aos tantos outros. O mundo envaideceu-se e o amor acabou se perdendo. O corpo nosso desintegra-se e somos muitos, somos vários, todavia não unos em amor. O que o Senhor acha de tudo isso? Ligo o rádio do carro a fim de acalmar o espírito, e tenho tentativa frustrada, pois só escuto tiro, gripe, desemprego. Leio o jornal a fim de encontrar aumento algum pro Insuficiente (chamado de Mínimo) e recebo enchentes, aquecimento, furto.

Meus olhos desacreditam das bibli(a)-ografias que tentam definir o que é a fé. Enclausuram a figura de um Deus-carrasco, um Deus-chicote, que na verdade só é Deus-Pai, Deus-Amor. Não tenho mais vontade, sede, saudade... Até que motivos tenho muitos... Mas perco-me na falta de coragem. Lembro-me do tempo que meus olhos sabiam ser humildes e se fechavam para agradecer-te pela dádiva que é a vida que a mim foi concedida. Invejo os momentos em que eu sabia orar quando medo meu coração sentia. E peco, por não ter coragem, por ter inveja-saudade minha, por continuar de mãos cruzadas. E peco, temo, tremo, choro... Corro feito criança perdida na areia molhada pelo mar que sou. Escrevo com a tinta dos meus pulsos nos cadernos e diários que inventei para gritar as minhas dores. O corpo cansado pede cuidados. E questiono-me acerca dos acúmulos materiais que todo homem ousa fazer. De que vale tudo? Por que não gastar seu dinheiro comendo algo que deseja muito, ou indo ver o filme que quer muito, se amanhã mesmo seus olhos poderão deixar de abertos estarem; se hoje mesmo seu coração pode cansar-se de ser artista e protagonista; se sua carne logo voltará ao seu estado primeiro: pó. ?

Eu quero mesmo seus cuidados de novo. Seu abraço apertado. Uma canção para brindar o amor. Um sorvete gelado. Andar de meias. Distraída. Andar de mãos dadas com as suas mãos. Se não for pedir demasiadamente, quero sóis coloridos, sorvetes de pistache. Quero o amor, meu bem querer enraizada(o) bem aqui no peito meu. E que todas as noites de estrelas muitas ao lado do amor, meu bem querer me seja cada vez mais felicidade. Desejo, outrossim, que a pureza, doçura e simplicidade desse amor, seja considerado pelo Senhor mais uma conjugação do verbo amar, que por vezes, assim sendo 'irregular' é mal vista aos olhos dos imorais. Eu quero amar entre iguais, sem classificação, sem excomungação. Quero de novo os teus olhos serenos ó Deus, sem medo de desaprovação. Eu quero que esta carta alce vôos... Amém!