quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Invisível
Dry Neres




Eu queria compreender muitas coisas... Mas só sinto. Não há diálogo íntimo com o sentir. Sou mulher, sou fera, sou sensível, sou criança, sou artista, sou invisível.

Estou em estado complexo do meu existir. Sou e estou, sobretudo, humana. Preciso de predicados. Mais predicados. Sou demasiadamente curiosa. Os meus dedos são animais indomáveis no ato de escrever. A escrita me consome, o pensamento me devora, me atinge. Sou surrada, pelas idéias certas que partem da incerteza do que sou, do que me faço.Preciso de S-i-g-n-i-f-i-c-a-d-o-s!

Me entrego completamente a este diário que é a essência da vida minha. Me revelo. Estou aqui a me revelar. Eu, este livro de capas alongadas, desenho leve, musical. Eu sou mulher e oscilo. Eu sou humana e erro. Torno a errar e caio. Levanto. Torno a errar e amo. Canso. Me visto.

Sinto-me assim ofegante. Meus olhos são duas fantasias climáticas. Ora chove, ora sol faz. Todavia, têm os estados que ainda não soube determinar. Sou um ser terminantemente inacabado. Acredito nunca estar pronta pra nada. Estou por assim dizer, em constante transfiguração.

Não há diálogo íntimo com o sentir.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Senhorita, estás a pisar a Terra?
Dry Neres


É como se meus órgãos fossem desfiados numa nuvem de confusão interior. É uma vontade repleta de convulsões de silenciar-me, mas os verbos saem em ato de parir, das minhas mãos, da minha face. É surpreendentemente incrível a forma como meus poros externam o que minhas veias querem dizer. Escondo-me. Revolvo-me. Destrói-me essa vontade de ultrapassar barreiras e sinais vermelhos. O lobo que há dentro de mim veste-se em tecido de pérolas, dança como Conde em festa Epita-fônica (são apenas palavras que invento).

É como se eu desapropria-se o verbo Ser. E como Robespierre, meus lábios pronunciassem: "Passant, ne pleure pas ma mort"! Os meus fantasmas voltam a me visitar todas as noites. Às vezes, quando sonho com castelos e consigo sorrir o mais largo dos sorrisos humanos, acordam-me no pico da minha alegria e entristeço-me em perceber-me "acorda"-Da. As ruas despencam nas rodas do meu carro. Vejo túneis, neblina e aperta-me os sentidos, quando penso nos meus pés a se balançar em dragões velando a ausência tua (que breve há de me acontecer, eu sinto).

É como o desejo de voltar e a deficiência de força que não encontro em meus relógios para que meus braços retornem à minha casa. Escuto os passos dos guarda-chuvas que camuflam o sol dos meus meses. E os anos se despedem em filmes preto e branco, trêmulos. Senhorita, estás a pisar a Terra? Ou estás submersa em baldes de pensamentos desordenados da procura cansada rumo à tua exaltação? Senhorita, caminha. Desgruda teus braços das amarras e artífices. Senhorita, estás a pisar a Terra? Por que não me responde? (Silêncio)

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Em Nó-tas
Dry Neres




Até seu vício por café se fez passível de encantamento meu. Dele emanam canções de mistério... Assim, como caminha a criança na noite escura, na floresta fria, nua, assustada. Em notas maiores vejo meu sorriso espalmado em seus lábios. Tão breve como correm as lágrimas, um palco das notas menores se forma no campo central do meu globo ocular. E o que contemplo? O café acabou, mas a inquietação não. Tento te alcançar. Faço força surreal para que minhas mãos atravessem seus órgãos, na tentativa-sorte de tocar seu coração. Desenho-me de forma que nem sou. Não é fingimento. É poesia!

Eu me sinto assim quebrada. Sem muitos nortes, nem oestes... Em todos os setores da minha existência parcial. Sim, existo parcialmente e não deixa de ser tão bom. É como se a insegurança, astuta que é, tivesse vestido meus dedos, tivesse se feito anel-prisão. Que horas são? Que dia é hoje? Qual o seu nome? O que você sente? Não quero pontuação. Não queria precisar de pontuação nem questionamento. Invento situações para entreter meu insignificante ato de pensar tanto no teu jeito.

Não quero mais jogos. Não quero mais beijos, líquidos. Preciso voltar pro meu lugar seguro. Onde existia paz na quentura do inferno interior. Onde havia certeza apesar da dor. Onde amigos brindavam e brincavam. Estavam. De tudo. Presentes! E agora, pra onde foi todo mundo? Pra onde fui? Me deixei...

Notas... É tão você, quando falo de mim. Seu café, seu cigarro, seus anéis, seus cílios, sua cor. Que dia é hoje? Quantas horas são? Onde posso me encontrar? Seu perfume ainda mora na minha boca.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Se de fato poeta sou...
Dry Neres



Cantarei os males do mundo de forma mais colorida. Desenharei as dores dos homens com mais alegorias e sorrisos. Construirei pontes entre os céus e as terras para que minhas caminhadas sejam mais serenas. Se de fato poeta, eu fosse... Eu não temeria a ordem diversa das minhas palavras que surgirão nos olhos curiosos dos que me lêem em fome. Meus pés se energizaram com as massagens das pedras que caminharam em meu corpo em forma de correnteza de rio. Meus dedos puderam tocar o que nem os anjos conseguiriam descrever em canções. Toquei minha alma em exatidão. Vi-me, descobri-me, reinventei-me! Compreendi que o encontro que eu buscava desde tempos imemoriais comigo mesma, estava escrito em cadernos velhos nos meus bolsos. As borrachas escondidas se encontravam dentro dos violões que levei junto à roupagem para me fazer nua. Se de fato poeta sou, hei de continuar morrendo de infinitas mortes, de infinitas dores, dos mais diversos traumas... E ainda assim, depois de um banho de chuva de idéias, conseguirei me erguer, e vestir as armaduras, e amar-me ainda mais, acarinhar-me ainda mais; isso tudo sem perder a ternura que o poeta tem. Se desejas afagar seu espírito, a receita é certa: Massageie sua alma constantemente com palavras de amor para consigo mesmo. Alimente o seu corpo com carinhos que lhe despertem ainda mais fome de si. Durma de olhos abertos a contemplar a face do humano-anjo mais lindo entre todas as canções, entre todas as poesias: V o c ê !

O que eu não digo é sempre mais belo. O que os anjos não ouvem, são sempre preces que os poetas elevam às alturas.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

E quando as palavras secam?
Dry Neres




Os olhos ficam feito mar em ressaca. Fica uma bagunça o ato de olhar. Não sei enxergar o sol que se apresentou pra mim nessa manhã de pássaros e flores azuis. Os potes que se escondem minhas tintas de fazer palavras, secaram. Porque minha alma foi inundada por um sentimento de turvidez, fora do alcance da minha compreensão tão infante. Os altos morros uivantes me visitaram em forma de chuva nas horas passadas que se foram tão longas. Me deixaram teu perfume adormecido nos olhos, na boca, nos seios. Me a-dormeceram os dentes na tentativa de ranger. Como lobo desalmado quisera arrancar o órgão que bate descompassado, cansado, abstrato que fica aqui no extremo esquerdo deste corpo tão pequeno, tão pesado. Precisava roubar todas as nuvens dos céus, dos mundos pra repousar este corpo de criatura tão sentimental. Precisaria habitar as asas de todos os seres que o dom têm de voar, pra me sentir sem algemas, com par. Minhas pernas cansadas, com estas roupas justas que parecem ousar a tentativa de comprimir esses sentimentos que sinto assim, calada. Eu queria ser. Mas não sei se sou. Não sei se existo, tenho, moro, vivo. Já não sei. Pareço arrastar-me como réptil infame, e frio, e gelado nos becos das sombras que gritam gemendo na estaticidade. Queria ir embora dessa cidade, talvez do planeta. Quem sabe Marte...? Quem o sabe o mar. Quero me livrar desta doença que sou eu. Dos cabelos espalmados, do jeito de me preocupar com o mundo dos outros, sem me preocupar com o meu local de estar. Das mãos que se estendem facilmente com mil folhas escritas à almas que não sabem sentir o sentimento que sinto, assim tão vermelho-dor. Morro de várias mortes e como cacto sinto meu peito amargo. E quando as palavras secam... Lágrimas largas inundam meu cobertor. E numa mistura tão cibernética, sim, porque pareço estar no pólo extremo norte do meu sentir tão dolorido, percebo que esbarraram no Ctrl Z, e foi-se tudo o que um dia pedi que não fosse tão rápido. Esperei que demorasse mais. Não tive tempo sequer de escrever um livro sobre nossa inquietude tão calma, tão doce, tão eu que já não sou sem você.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Susto
Dry Neres



Sustos talvez sejam como abalos sísmicos em horizontal. O coração parece bater na velocidade da órbita que faz a lua em torno dos pensamentos nossos. A boca seca, com palavras dançando. Os olhos suados, amargados como sal no sangue. E as pernas não conseguiam equilibrar o peso da alma que derretia em pedras de gelo ácido. Eu, que com artérias me debatia... Aprendi que é preciso apertar a tecla 'pause' às vezes. Respira, anda, fala, come, veste, cria. 'Pause'. Decora, embola, escolhe, ama. 'Pause'. Dorme, recolhe, briga, volta. 'Enter'. Os sustos vão embora como chuva escorre pelo corpo. Foi. Estabeleci controle da nave, mas me vi vulnerável demais, exposta demais, nua demais. 'Print Scrn': T u d o é a p r e n d i z a d o!
E ainda te tenho comigo: 'F5'.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Quase música
Dry Neres




Aquelas ondas, sim aquelas ondas batiam, volviam, assim... Bem perto de mim.
Nos meus pés, em minha face, arquétipos voláteis. Eu que desacreditada estava em encontrar quentura para meu frio interno... Fui surpreendida pelo destino que te trouxe pra mim.
Falo de um mar que já se aquietou. Que se mostrou maduro e sorridente. Que se apresentou pra mim, em forma de amor puro, assim, singelo. De uma infantilidade tão madura que ainda custo a acreditar. É como se os poetas me emprestassem todas as suas falas acerca do tal caminho vermelho-calmo, vermelho-amor. Eu sou viajante, bailarina, sou atriz principal nesse palco onde as palavras formam livros de metáforas que você tanto gosta. Gosto da forma como meu corpo se faz cobertor seu, nas noites em que a lua brinca conosco; nas noites em que o dia é visto pela janela sem que os olhos experimentassem o ato de dormir. Sim, porque nossos corpos A-Dormecem acordados. Entre histórias de príncipes, princesas... Fico com a nossa! A nossa história entre letras pares de um alfabeto que poderia muito bem ter dois Ds sem que um tirasse o brilho do outro. Você faz dos meus dias, doces canções. Você torna meus sonhos a mais bela realidade. Nossos corpos se chamam, se apelidam, se imploram. Nossos nomes, são quase música. Fotografoescrevo todas as imagens tuas aqui em minhas mãos, desenho-te em meus pensamentos,descrevo-te nos painéis que crio acerca do céu. Nuvens são os beijos teus. Corro atrás dos guizos sorridentes teus como pássaro faminto em ninho do tão conhecido e já citado, vermelho-calmo, vermelho-amor. Porque Deus te deu pra mim? Adoro tuas indagações. Adoro te responder. Foi porque ele te deu pra mim também, e haveria de ter reciprocidade. Adoro filmar teu jeito tão doce de caminhar. Amo o timbre da voz que sai do teu canal responsável pela fala. Me encanto com nossa forma ímpar de nos parecermos, de nos completarmos, de nos encantarmos... E deixar que a paixão cresça a cada olhar, a cada ato de respirar ofegante, em toques sublimados, em mãos que buscam conhecer almas, na dança dos corpos que se e-namoram, na constituição do tudo do que somos.


Meu coração é teu lugar primeiro.
Teu coração é meu sorriso certo.